O policial militar Jackson Pereira Barbosa, preso desde 17 abril por envolvimento no homicídio do advogado Renato Nery, ocorrido em julho do ano passado, em Cuiabá, acompanhava as investigações da DHPP (Delegacia Especializada de Homicídios e Proteção à Pessoa) por meio de mensagens e videochamadas com os advogados do PM Heron Teixeira Pena Vieira, preso em março pelo mesmo caso.
A informação consta na denúncia oferecida contra ele pelo MPE (Ministério Público Estadual).
De acordo com a acusação, ao menos desde o dia 24 de março, antes de ser alvo de operação de busca e apreensão no dia 8 de abril e posteriormente de sua prisão no dia 17, Jackson mantinha contato com a equipe jurídica da defesa de Heron, que inclusive teria feito cobrança para "garantir seu silêncio".
"Conforme relatório técnico nº 2025.5.108251 e nº 2025.5.109220, o advogado constituído na defesa de Heron desde 24/03/2025 manteve contato com Jackson nos dias que antecederam as buscas domiciliares, corroborando a versão de Kaster [Huttner Garcia, testemunha do processo] de que advogados procuraram Jackson para tentar resolver a "questão financeira" de Heron, a fim de garantir seu silêncio", consta na denúncia.
"As investigações revelaram que Jackson realizou contatos via WhatsApp e ligações de vídeo com advogados de defesa de Heron entre os dias 04 e 10 de abril de 2025, demonstrando monitoramento ativo das investigações em curso. Estes contatos ocorreram antes mesmo das buscas e apreensões serem deflagradas contra Jackson, evidenciando articulação prévia para obstruir as investigações", diz a denúncia.
Ainda segundo o documento da Promotoria, foram encontradas diversas mensagens enviadas por Jackson de conteúdo de visualização única e uma 'foto escura e um interrogaçãozinha' para pressionar o cumprimento do "serviço", evidenciando seu controle sobre a operação criminosa".
A investigação
A DHPP apontou que Jackson, que é de Primavera do Leste, teria sido contratado como intermediador pelos supostos mandantes do homicídio, o casal de empresários da cidade, Julinere Goulart Bentos e César Jorge Sechi.
Jackson foi indiciado em 23 de junho por homicídio triplamente qualificado por promessa de recompensa, emprego de meio que possa resultar perigo comum e recurso que impossibilitou a defesa vítima. No mesmo inquérito, foi indiciado o PM Ícaro Nathan Santos Ferreira, que forneceu a pistola Glock G17 para a execução.
A motivação
Conforme revelado pela Polícia Civil, o casal de empresários e Renato Nery travavam uma batalha judicial pela posse de terras no Município de Novo São Joaquim, avaliadas em mais de R$ 30 milhões.
O processo envolveu a reintegração de posse das áreas que Nery recebeu como pagamento de honorários advocatícios de uma ação em que atuou por mais de 30 anos.
Outros envolvidos
No âmbito da investigação do homicídio de Nery, foram indiciados na primeira etapa os policiais militares da Rotam que teriam forjado um confronto para plantar com supostos criminosos a arma utilizada para matar o advogado.
Identificados como Leandro Cardoso, Wailson Alessandro Medeiros Ramos, Wekcerlley Benevides de Oliveira e Jorge Rodrigo Martins, os PMs foram indiciados em 30 de abril por homicídio qualificado, duas tentativas de homicídio, fraude processual e porte ilegal de arma de fogo.
No dia 1º de maio, Heron Vieira, acusado de ser articulador do crime, e o caseiro Alex Roberto de Queiroz Silva, apontado como autor dos disparos, foram indiciados por homicídio triplamente qualificado por motivo torpe, paga ou promessa de recompensa e recurso que impossibilitou a defesa da vítima.
Por último, finalizando a investigação, foram indiciados no dia 11 de julho o casal César e Julinere, por homicídio qualificado por motivo torpe, promessa de recompensa, emprego de meio que possa resultar em perigo comum e recurso que impossibilitou a defesa da vítima.
O homicídio
Ex-presidente da OAB-MT, Renato Nery foi atingido por um disparo na cabeça no dia 5 de julho de 2024, quando chegava em seu escritório na Avenida Fernando Corrêa, em Cuiabá.
Socorrido com vida, ele foi levado às pressas para o Complexo Hospitalar Jardim Cuiabá, onde passou por cirurgias, mas não resistiu e morreu no dia seguinte.
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