O policial Franckciney Canavarros, do Grupo de Atuação Especial Contra o Crime Organizado (Gaeco), afirmou que era o PM Jorge Roberto e Silva, falecido em julho deste ano, quem utilizava o celular de onde saíram mensagens tentando extorquir o delator da Operação Convescote, Hallan Gonçalves de Freitas (veja o vídeo abaixo).
Franckciney está preso desde o dia 15 de setembro, suspeito de ter sido o autor das mensagens, enviadas por WhatsApp e usadas para tentar negociar informações sigilosas da operação em troca de dinheiro.
A Operação Convescote apura suposto esquema que teria desviado mais de R$ 3 milhões dos cofres públicos, por meio de convênios firmados entre a Faespe e a Assembleia Legislativa, Tribunal de Contas do Estado (TCE), Secretaria de Estado de Infraestrutura e Prefeitura de Rondonópolis (212 km ao Sul de Cuiabá). A fundação, por sua vez, criava “empresas fantasmas” para simular a prestação de serviços.
Durante audiência de custódia realizada na mesma data da prisão, ocasião em que a detenção foi mantida pelo juiz Marcos Faleiros, o policial deu sua versão dos fatos e culpou o PM Jorge Silva pelo eventual crime.
O policial afirmou que acompanhou a operação desde o início e foi designado para fazer uma análise bancária dos investigados.
“Durante os trabalhos, eu precisava de alguns dados de campo, dados operacionais, informações sobre condição financeira de algum alvo, se ele dispunha de meios, porque analisando a conta bancária deles, os valores que entravam na conta por conta dos convênios firmados com a Assembleia ou com o Tribunal de Contas, e a Faespe intermediando, eu precisaria saber qual era a condição social daquela pessoa para saber se fazia jus ao valor que ingressava em sua conta”.
Para obter estes dados, Franckciney disse que passou a conversar com o PM Jorge Silva, “que era o agente operacional responsável pelo caso em questão”.

“Começamos a conversar, dialoguei com ele, pedi algumas informações, trocamos algumas ideias sobre os alvos. Em uma oportunidade ele me pediu um pen-drive para que ele me passasse todos os relatórios operacionais que haviam sido feitos pela Coordenadoria de Informações, não só por ele, mas por outras equipes. Porque esses relatórios operacionais subsidiariam o meu relatório para análise bancária. Ele me entregou e, a partir de então, começamos a ter esse elo de conversação constante. Nada formal, sempre informal. Ele vinha até a minha sala e passava algumas situações”.
Cadastro do celular
Posteriormente, segundo o policial, o PM Jorge Silva disse que os alvos da Convescote estavam “muito quietos” e que, nessas situações, era comum usar a tática de cadastrar um telefone para “provocar” os alvos.
“Ele não disse exatamente dessa operação, mas disse que já havia feito e outros agentes operacionais já haviam feito essa prática de provocar o alvo para que o alvo atendesse o telefone ou recebesse um SMS para que desse ERB [Estação Rádio Base], principalmente quando tem mandado de busca e apreensão, para saber se a pessoa estava ou não naquele endereço. Ele disse que já havia feito outras vezes essa situação e ele havia cadastrado um telefone de pessoas que já tinham morrido”.
Para tal, conforme o depoimento, o PM Jorge Silva perguntou a Franckciney se este não teria um telefone velho para habilitar um chip.
“Eu falei: ‘Não tenho, mas posso verificar com um amigo meu’. Verifiquei com um amigo meu chamado Weverton, se ele tinha um aparelho velho, e ele me forneceu um telefone que não me recordo a marca agora. Era um aparelho Samsung antigo, eu fui e dei para ele [Silva]. Passou um tempo e ele colocou um chip naquele aparelho”.
Franckciney contou que alguns dias depois, o PM habilitou o aparelho e deu um toque em seu celular particular.
“Certamente eu não atendi essa ligação, porque não me recordo. Voltamos a conversar novamente, ele disse ‘já cadastrei o número e inclusive dei um toque no seu celular pra confirmar se estava funcionando’. Na época eu não dei importância porque eu não sabia qual era a intenção dele de cadastrar aquele chip”.
O agente também contou que o PM criou uma conta de email para poder instalar o WhatsApp no celular, sendo que o nome da conta continha a palavra “Hallan”, justamente o investigado que recebeu as propostas indevidas.

“Ele criou alguma coisa hallan@gmail, não lembro agora, mas lembro que tinha Hallan. Eu ainda indaguei ele e ele disse ‘coloquei o nome de um dos alvos’”.
Após a criação do email, de acordo com o agente do Gaeco, o PM Jorge Silva novamente lhe procurou em razão de não ter conseguido instalar o WhatsApp no celular.
“Eu peguei o aparelho e levei para casa, fiquei comigo para ver se eu conseguia resolver o problema desse aplicativo. Pedi informação para esse mesmo amigo que forneceu o telefone, via WhatsApp, perguntando como faz para cadastrar. Então ele disse ‘pensa na possibilidade desse seu amigo não ter inserido créditos e por isso não estar conseguindo’.
Franckciney relatou ter repassado as informações a Jorge Silva e devolvido o celular ao mesmo.
“Após a entrega desse aparelho já com o aplicativo, eu não conversei mais com ele sobre o aparelho. Até então para mim o problema havia sido sanado. Agora, o que ele fez a partir de então com o aparelho, eu não vou saber dizer”.
Silêncio
O agente afirmou ter ficado preocupado após a notícia dando conta do vazamento de informações em troca de dinheiro, publicada pelo MidiaNews em 18 de agosto.
“Inclusive a matéria colocou fotos de prints de conversas. Na época eu fiquei muito preocupado e pensei em chamar o coronel que era meu chefe imediato e explicar para ele o que havia acontecido”.
Todavia, ele disse que não contou sobre a situação aos seus superiores para não “queimar” a imagem de Jorge Silva, que havia morrido meses antes.
“Não comentei nada para que não maculasse a imagem dele, sujasse a imagem dele perante não só o Gaeco, mas perante a instituição. Até porque ele morreu de uma forma trágica, ainda está sendo apurada a circunstância da morte. Então por isso eu tomei a decisão de não falar para o coronel a conversa que havia tido anteriormente”.
Veja o vídeo com o trecho do depoimento:
Entenda o caso
Em delação premiada firmada com o Ministério Público Estadual, Hallan – que é ex-funcionário da Fundação de Apoio ao Ensino Superior Público Estadual (Faespe) - entregou mensagens enviadas por WhatsApp em que um interlocutor até então desconhecido oferecia documentos sigilosos da investigação em troca do pagamento de R$ 10 mil.
As conversas foram anexadas à colaboração premiada e homologada pela juíza Selma Arruda, da Vara Contra o Crime Organizado da Capital.
Hallan Freitas estava preso desde o dia 21 de junho, mas obteve a soltura no dia 15 de agosto, após a delação ter sido homologada.
De acordo com o delator, que confessou ter emitido R$ 450 mil em notas frias de serviços fictícios, cujo valor foi revertido ao grupo criminoso, as ameaças começaram no final de 2016.
Hallan Freitas disse que o celular de sua esposa passou a receber mensagens, via WhatsApp, de um número cadastrado no nome dele, “de alguém dizendo que tinha documentos referentes à investigação, inclusive contendo fotografias minhas”.
“Até hoje não sei quem enviou estas mensagens. Estas mensagens foram apreendidas pelos policiais do Gaeco em minha casa”, disse Hallan, em sua delação.
Na primeira mensagem, conforme consta na investigação, o interlocutor avisou a esposa de Hallan Freitas para que o avisasse para entrar em contato, mas apenas via WhatsApp.
O interlocutor disse que tinha um documento muito “valioso” para Hallan, Benvenutti [Luiz Benvenutti, também investigado] e Jocilene [Assunção, diretora da Faespe].
“Diga para não ligar, tampouco enviar SMS, pois as duas formas podem ser rastreadas [...] Repito, não ligue... o cerco está se fechando e o documento que achei pode ajudar e muito”.
O autor da chantagem disse que “hackeava” órgãos e repartições e o documento que encontrou poderia ajudar Hallan. Nas mensagens, o policial enviou fotos de trechos do inquérito sigiloso, inclusive gráficos e imagens do monitoramento conduzido pelo Gaeco contra o delator, que hoje constam na ação penal.
“Esse documento pra mim não serve pra nada. Mas pra você pode significar muita coisa [...] Você deve estar sendo monitorado por algum motivo. Quero dez mil pelo documento... sem encontro pessoal, pois tenho certeza que está grampeado. Se não deve, pode ignorar”.
“Entenda que não é o único... tentei contato com a tal Jocilene, mas não consegui. O documento fala de uma Faespe, Unemat, TCE, Assembleia, Sicoob, Plante Vida, e por aí vai”, disse.
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4 Comentário(s).
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| A VERDADE VIRÁ 28.11.17 08h29 | ||||
| Haverá uma reviravolta nesse caso, podem esperar. Conheço o Canavarros, sei da sua dignidade e do seu comprometimento com a instituição. Policial honesto, dedicado, com quase vinte anos de profissão. Certamente será inocentado ao final e, aqueles que estão o julgando antecipadamente não terão a ombridade de procurá-lo e pedir desculpas. À imprensa sensacionalista e vendedora de informaçoes pútridas e eivadas de erros, certamente arcarão com as ações que os advogados irão ingressar aos montes. Aguardem e verão. | ||||
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| Gian 27.11.17 18h35 | ||||
| Eu conheço este Pm (Canavarros). Pessoa íntegra. Uma pena que primeiro queimam ele para depois saber a verdade. Vamos dar-lhe o benefício da dúvida, depois deixem os verdadeiros julgadores darem o veredicto! | ||||
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| Cidadão 27.11.17 11h39 |
| Cidadão , seu comentário foi vetado por conter expressões agressivas, ofensas e/ou denúncias sem provas |
| Impunidade 27.11.17 11h15 | ||||
| Q pena q travaram esse caso,esses PM tem tanta coisa para contar,e também é inimaginável a quantidade de pessoas q os mesmos grampearam.Uma vergonha a participação dos MP nesse caso. | ||||
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