Cuiabá, Terça-Feira, 5 de Agosto de 2025
MANAYRA LEMES ROSA
31.05.2025 | 05h30 Tamanho do texto A- A+

NR-1 e saúde mental

O desafio de equilibrar trabalho e bem–estar com a saúde mental

A recente atualização da Norma Regulamentadora nº 1 (NR-1), do Ministério do Trabalho, representou um avanço significativo ao reconhecer, de forma objetiva, a importância da saúde mental no ambiente de trabalho. Ao incluir os riscos psicossociais no Programa de Gerenciamento de Riscos (PGR), sinaliza que fatores como assédio, sobrecarga, isolamento e insegurança emocional não são questões secundárias e sim riscos reais à integridade dos trabalhadores.
 
No entanto, para que essa medida produza efeitos concretos e equitativos, é essencial que o debate incorpore uma lente de gênero. Mulheres enfrentam, historicamente, condições laborais marcadas por desigualdades: jornadas duplas e/ou triplas, disparidades salariais, sub-representação em cargos de liderança e maior exposição a violências simbólicas e assédios diversos. E não, isso não se resolve apenas com “palestrinha” em datas comemorativas!
 
Todos esses elementos destacados intensificam os riscos psicossociais enfrentados por elas e tornam urgente a necessidade de que a aplicação da NR-1 considere suas especificidades. Sem esse recorte, corre-se o risco de reforçar invisibilidades e perpetuar estruturas de sofrimento no ambiente de trabalho. No Dia Nacional da Saúde da Mulher, 28 de maio, precisamos reconhecer que o adoecimento feminino advém de um contexto sociocultural que precisa ser revisto e transformado a partir de ações concretas.
 
O levantamento da plataforma De Mãe em Mãe, da faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), realizado em 2024, reforça o que cotidianamente já sabemos: 66% das mães entrevistadas [de um universo de 872 mulheres de todos país] classificaram a própria saúde mental como péssima, ruim ou regular; e apenas 34% consideram boa ou ótima. O sentimento de sobrecarga  foi relatado por 97% das entrevistadas, enquanto o de esgotamento por 94% delas.
 
Segundo dados da PNAD Contínua (IBGE) de 2022, as mulheres dedicam quase o dobro de tempo que os homens aos cuidados de pessoas e/ou afazeres domésticos, consumindo 21,3 horas semanais delas, contra 11,7 horas deles. Esse dado, quando confrontado com os níveis de afastamento do trabalho por questões de saúde mental, revela uma intersecção clara entre gênero, trabalho e adoecimento.
 
Reconhecer que a jornada de trabalho feminina é diferente da masculina é um bom começo. Na maioria das vezes, a mulher já chega ao ambiente de trabalho com três horas de trabalho em casa: já deu comida para filho, para o pet, levou criança na escola, já arrumou a casa. Além disso, mães trabalhadoras lidam com pressões específicas, como o mito da perfeição, a exigência por desempenho profissional ininterrupto (mesmo durante a maternidade) e a ausência de redes de apoio.
 
Com as novas regras NR-1, as organizações têm a oportunidade de incorporar ações que busquem melhorar a saúde mental dos seus funcionários. Por onde começar? Pelo diagnóstico. É fundamental compreender quais são os riscos inerentes ao seu negócio, que variam de empresa para empresa, setor para setor, para poder criar programas a partir desse “mapa”.
 
Durante a implementação, que é muito mais como uma jornada, porque requer tempo e monitoramento em longo prazo, é fundamental entender a importância do autocuidado, que não é luxo, nem egoísmo, e sim necessidade, porque envolve os pilares do bem-estar estar, que são alimentação e sono de qualidade, lazer, psicoterapia, estabelecer limites e hobbies.
 
Enfim, promover saúde mental no trabalho exige escuta ativa, compromisso institucional e políticas contínuas que enfrentam, de fato, os riscos psicossociais, especialmente aqueles que impactam mais as mulheres. Tem uma música do Arnaldo Antunes (Titãs) que eu gosto muito e diz assim: “A gente não quer só comida. A gente quer comida, diversão e arte. A gente não quer só comida. A gente quer saída para qualquer parte (...)”.
 
A boa notícia é que há caminhos possíveis e profissionais preparados para conduzi-los nesse processo de transformação que a sua empresa precisa. Não adianta continuar adiando o inevitável. Vamos juntos?
 
Manayra Lemes Rosa é psicóloga clínica, implementadora da NR-1.

 

*Os artigos são de responsabilidade de seus autores e não representam a opinião do MidiaNews. 

 

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