LAÍSE LUCATELLI
DA REDAÇÃO
O empresário Paulo Fiuza, segundo suplente do senador Pedro Taques (PDT), admitiu, com exclusividade ao
MidiaNews, que a ata do registro de candidatura da chapa de Taques ao Senado foi fraudada nas eleições de 2010. Ele resolveu quebrar o silêncio mais de dois anos após o ocorrido, em função de ter sido intimado pelo juiz eleitoral José Luis Blaszak a se pronunciar sobre o caso.
“Eu não posso compactuar com uma fraude. Eu nunca me manifestei publicamente sobre esse assunto, mas fui forçado a isso pela ação judicial. Então eu não iria me defender dizendo que aquilo estava tudo certo, porque não está”, disse Fiuza.

"Eu não posso compactuar com uma fraude. Eu nunca me manifestei publicamente sobre esse assunto; eu não iria me defender dizendo que aquilo estava tudo certo, porque não está"
Ele foi arrolado no processo movido pela coligação de Carlos Abicalil (PT), adversário de Taques à época, que acusa falsificação na ata. O petista, que ficou em terceiro lugar na disputa pelo Senado, atrás de Taques e de Blairo Maggi (PR), pede a impugnação do mandato do senador do PDT.
O juiz determinou um exame grafotécnico (que determina a autenticidade e autoria de escritas) para avaliar se as assinaturas e rubricas constantes na ata foram feitas pelas mesmas pessoas (leia mais
AQUI).
No último dia 26 de fevereiro, o empresário, que reside em Sinop, protocolou um ofício no TRE, respondendo à intimação de Blaszak. No ofício, o advogado de Fiuza, Marco Aurélio Fagundes, aponta, ainda, os itens que devem ser observados para que a adulteração seja comprovada.
“O impugnado Paulo Pereira Fiuza Filho não reconhece como autêntica a ata constante às páginas 249 a 252. A ata original que substitui os suplentes é aquela constante às folhas 803 a 805. A perícia grafotécnica, a ser realizada pela Polícia Federal, deverá comparar a folha 250 com a folha 803, aonde o ‘item 6’ foi excluído ata de fl. 803, bem como as rubricas constantes das duas páginas supracitadas”, diz trecho do documento.
Reprodução
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O empresário Fiuza, que enviou ofício à Justiça Eleitoral
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A ata em questão diz respeito à substituição de Zeca Viana (PDT) no posto de primeiro suplente, já que ele decidiu abrir mão da indicação para concorrer ao cargo de deputado estadual, para o qual acabou se elegendo.
De acordo com Fiuza, o documento original o colocava como primeiro suplente, no lugar de Zeca Viana, e deixava a vaga de segundo suplente em aberto para que a coligação indicasse alguém.
A defesa de Fiuza alega que a ata em que os suplentes de Taques são trocados continha três folhas, e a segunda foi fraudada – justamente a página que oficializava a candidatura do empresário como primeiro suplente de senador.
“É visível que foi retirada a segunda folha da ata, que tinha o Paulo Fiuza como primeiro suplente. A página foi substituída por outra, adulterada, colocando o José Medeiros no lugar dele e transferindo o Paulo para a segunda suplência, e aproveitando a última folha da ata, que tem as assinaturas verdadeiras de todo mundo”, disse o advogado Marco Aurélio Fagundes.
O
MidiaNews teve acesso à ata que seria a original, contemplando Paulo Fiuza como primeiro suplente (
confira no arquivo em pdf anexado abaixo do texto).
"Me sinto amargurado"

"Eu me sinto amargurado com essa fraude. No que essa ação do Abicalil vai resultar, eu não sei. Se vai anular o registro do primeiro suplente, ou dos dois suplentes, ou toda a chapa, é a Justiça que vai decidir"
O suplente Paulo Fiuza isentou o senador Pedro Taques de qualquer envolvimento com a fraude. “Quem conhece o Taques sabe que ele não fraudaria uma ata. Além disso, foi ele quem pediu para que eu fosse o primeiro suplente dele. E eu, como fui o maior prejudicado, também não tive nada a ver com isso", argumentou.
"Eu me sinto amargurado com essa fraude. Eu nem queria continuar na política depois que perdi as eleições para prefeito de Sinop, em 2008, mas me candidatei como suplente na chapa a pedido do Taques. E aí acontece uma coisa dessas”, desabafou.
Ele disse que não acredita na possibilidade de o senador vir a perder o mandato por conta da fraude, como quer o ex-deputado federal Carlos Abicalil.
“A ata que registrou a candidatura do Pedro Taques, tendo o Zeca Viana como primeiro suplente e eu como segundo, está correta. Por isso, o direito do Pedro Taques ao mandato é líquido e certo, já que o registro da candidatura dele não tem problemas. O problema foi depois, quando o Zeca renunciou e precisou ser substituído”, disse Fiuza.
Thiago Bergamasco
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Senador Pedro Taques não teria participado de fraude
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“No que essa ação do Abicalil vai resultar, eu não sei. Se vai anular o registro do primeiro suplente, ou dos dois suplentes, ou toda a chapa, é a Justiça que vai decidir. Da mesma forma, pode não acontecer nada”, ponderou.
O empresário relatou que só percebeu a fraude no dia da eleição, quando foi votar e percebeu que seu nome constava como segundo suplente de Taques. “Após as eleições, a coligação chegou a encaminhar à Justiça Eleitoral um pedido de correção, para que eu fosse colocado como primeiro suplente. Mas o TRE recusou, porque as eleições já tinham passado”, disse.
Ameaça e omissão
Fiuza lamentou, ainda, o fato de Pedro Taques não tê-lo defendido quando José Medeiros o acusou de tê-lo ameaçado para assinar o pedido de correção da ordem de suplência, após as eleições (leia mais
AQUI).

"A única coisa que eu sinto é o fato de o Taques ter se omitido, e não ter me defendido na imprensa quando me acusaram de ameaça"
“A única coisa que eu sinto é o fato de o Taques ter se omitido, e não ter me defendido na imprensa quando me acusaram de ameaça. Quem discutiu com o José Medeiros, conforme o próprio Taques me relatou, foi o Oscar Bezerra (ex-prefeito de Juara e marido da deputada Luciane Bezerra). Eu não tive nada a ver com isso, e o Taques não me defendeu quando eu fui acusado”, disse.
A assessoria de Taques encaminhou, no início desta semana, uma nota à redação sobre a polêmica, dizendo que o senador não se pronunciaria sobre o caso.
"O pedido de exame grafotécnico sobre ata de registro de candidatura da coligação “Mato Grosso Melhor Pra Você”, assinado pelo juiz eleitoral José Luis Blaszak, diz respeito aos registros dos suplentes do pedetista, José Medeiros e Paulo Fiúza", diz a nota.
"A candidatura do senador foi registrada no Tribunal Regional Eleitoral no dia 5 de julho de 2010, tendo como primeiro suplente Zeca Viana e segundo suplente Paulo Fiúza. Posteriormente, Zeca Viana decidiu candidatar-se a deputado estadual. Com esta renúncia, a coligação substituiu o primeiro suplente por José Medeiros. A ação de impugnação de candidatura contesta o registro dos suplentes, não interferindo sobre o registro de candidatura e, consequentemente, mandato do senador Pedro Taques", completou.
Veja o ofício de Paulo Fiuza ao TRE, em que ele não considera a ata de registro de candidatura de Taques autêntica: