LISLAINE DOS ANJOS
DA REDAÇÃO
Cerca de nove famílias residentes na Rua Xavantes, no bairro Santa Helena, se reuniram com engenheiros da Secretaria Extraordinária da Copa do Mundo (Secopa), durante esta semana, para solicitar a permanência em suas residências, hoje localizadas à beira de um morro de aproximadamente 10 metros de altura, na Avenida Miguel Sutil, em frente ao Plaza Motel.
A polêmica teve início quando a Secopa realizou um corte na encosta do morro para alargamento da pista da Perimetral, ação que integra o projeto de adequação da via para construção do Viaduto do Despraiado.
Segundo o coordenador de Infraestrutura da Secopa, engenheiro civil Jamir Sampaio, o corte parcial da encosta já era previsto, desde o início do projeto.
A ideia, até então, era construir um muro de arrimo de aproximadamente cinco metros de altura, que iria conter possíveis deslizamentos no futuro, bem como escalonar o morro em forma de talude (plano inclinado que limita um aterro), com recobrimento vegetal para proteger o solo da erosão.
“A imprevisibilidade que ocorreu lá foi a variação do ângulo de mergulho da variação geológica. Tínhamos toda a sondagem e estudo geológico, mas somente após o corte do morro é que se revelou a inclinação dos ângulos de mergulho daquela formação”, explicou o engenheiro ao
MidiaNews.
Pedro Alves/MidiaNews
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Corte no morro foi feito para alargamento da pista da Avenida Miguel Sutil
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A inclinação das rochas na encosta à qual Sampaio se refere faria com que o projeto original não fosse suficiente para “segurar” a encosta do morro, que tem aproximadamente 136 metros de extensão.
Atualmente, quem passa pelo local percebe que o corte já foi feito, mas o impasse da pasta com os moradores impede que a contenção seja feita.
O projeto original, segundo Sampaio, seria o mais prejudicial aos moradores, porque, como os cortes de nivelamento do terreno seriam feitos de maneira escalonada (em forma de degraus), acabaria por ocupar todo o terreno deles e colocaria em risco a segurança das famílias.
“Para aliviar todo esse maciço que ainda resta, iríamos cortando e aliviando até chegar nas edificações. Se fizermos isso hoje [manter as famílias], com a inclinação existente, deixaríamos algumas casas praticamente “penduradas”. Já pensou se uma criança cai dali?”, disse.
Em reunião com Sampaio, os moradores pediram para que seja tomada uma decisão pelo Estado que permita a eles permanecerem no local. Segundo o engenheiro, eles aceitaram, inclusive, a hipótese de perder terreno ou até mesmo diminuir a área de suas casas, sendo indenizados pela área usada pelo governo na obra.
De acordo com o engenheiro, nove famílias estão inclusas no estudo por estarem mais próximas do barraco e hoje passam por avaliação, por parte do Consórcio Diafre/Cappe, do valor de indenização em caso de desapropriação.
No entanto, segundo Sampaio, o fato de serem avaliadas não significa que as nove serão afetadas pela obra no morro.
“Temos uma agenda para daqui a 30 dias com os moradores, quando teremos os laudos de desapropriações das nove propriedades já prontos e quais as alternativas mais viáveis, para chegarmos a um acordo com eles”, disse.
Possibilidades
Pedro Alves/MidiaNews
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Engenheiro da Secopa, Jamir Sampaio: "Não basta a gente conter e eles ficarem à beira de um precipício"
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Sampaio afirmou que os técnicos da Secopa estudam de três a cinco soluções para o impasse. Há possibilidade de construir um muro ainda maior, mas na mesma posição, e soterrar o “vácuo” que irá surgir devido à inclinação do morro – o que faria com que os moradores inclusive ganhassem terreno.
“Temos três variáveis: técnica de engenharia, a questão econômica e a questão social. Cada solução será analisada por esses três quesitos. A que atender melhor, principalmente a social, é o que a gente vai adotar”, disse.
O local onde as casas estão localizadas, há alguns anos, foi apontado como área de risco, devido a alguns imóveis estarem “escorregando” e correrem risco de desabamento à época – antes mesmo da cogitação de realização de obra na região, segundo ele.
“Como envolvem vidas ali, o projeto também precisa levar em conta a segurança. Não basta a gente conter [a enconta] e eles ficarem à beira de um precipício”, alegou Sampaio.
O engenheiro afirmou que o principal motivo alegado pelas famílias para permanecerem no local é pela história que construíram e pelo medo da remoção ser feita de uma forma traumática, por desconhecerem o processo de desapropriação.
“Na verdade, o Estado está indenizando para você adquirir uma residência, às vezes, no mesmo bairro. Eles confundem com situações, por exemplo, de enchente, desastres naturais, quando tiram as famílias dos locais e levam para outro lugar”, disse.
De acordo com o engenheiro, até o momento, das nove casas analisadas, só uma apresentou patologias. Os órgãos de Defesa Civil do Estado e de Cuiabá acompanham todo o processo.
Execução e cronograma

"O viaduto pode ser liberado para uso da população antes"
Independente da escolha, a obra – que originalmente estava previsto no contrato de R$ 18,9 milhões do Consórcio Atracon, responsável pela execução do Viaduto do Despraiado – deverá ser realizada pela Secopa. Não há estimativas de custo, que dependem da solução adotada.
De acordo com Sampaio, o impasse não reflete em problemas na conclusão e entrega da obra do Viaduto do Despraiado – inauguração, aliás, que já foi adiada pelo Estado por duas vezes e segue indefinida devido à problemas com a qualidade da brita usada na pavimentação do elevado.
“A pretensão é de entregar [a obra de contenção da encosta] junto com o viaduto, mas elas não estão vinculadas. O viaduto pode ser liberado para uso da população antes”, afirmou.