A juíza Selma Arruda, da Vara Contra o Crime Organizado da Capital, afirmou que a suposta organização criminosa chefiada pelo ex-governador Silval Barbosa (PMDB) ainda não parou de operar e tenta “embaçar” as descobertas dos delitos, por meio de ameaças aos colaboradores da ação.
A afirmação consta na decisão que deflagrou a 4ª fase da Operação Sodoma, que apura o desvio de R$ 15,8 milhões dos cofres públicos, por meio do pagamento da desapropriação de um imóvel conhecido por Jardim Liberdade – localizado nas imediações do Bairro Osmar Cabral, em Cuiabá.
A operação da Delegacia Fazendária (Defaz) prendeu o ex-secretário de Estado de Planejamento Arnaldo Alves, o procurador aposentado Francisco Gomes de Andrade Lima Filho, o Chico Lima, e o empresário Valdir Piran.
Também tiveram mandados de prisão cumpridos o ex-governador e o ex-secretário de Fazenda Marcel de Cursi que já se encontravam detidos no Centro de Custódia da Capital.
A juíza citou, na decisão, relatou exemplos de ameaças feitas pelo grupocontra membros que possivelmente poderiam revelar o esquema: "homem de boca mole vira comida de formiga", "quem tem cú, tem medo", "quem tem boca fechada não entra formiga"
Tais intimidações, segundo Selma Arruda, teriam sido feitas contra o ex-secretário chefe da Casa Civil, Pedro Nadaf, – que confessou ter feito parte da organização - e contra os delatores do esquema: o ex-secretário de Administração César Zílio; o ex-presidente do Intermat (Instituto de Terras de Mato Grosso), Afonso Dalberto; além do empresário Willians Mischur.
“Essas informações retratam que a organização criminosa profere ameaças de morte contra quem pretenda desmantelá-la, no claro intuito de proteger seus membros e manter sua integridade”, afirmou a juíza.
Um dos indícios da periculosidade da organização, conforme a magistrada, consta no depoimento do ex-presidente do Intermar, Afonso Dalberto. Ele afirmou em juízo possuir muito medo da família Barbosa.
Conforme Selma Arruda, Dalberto disse que se sentiu intimidado pelo ex-governador durante audiência da ação derivada da operação Seven, realizada no Fórum da Capital.
De acordo com Dalberto, Silval o indagou do porquê de não ter conversado com ele. Na ocasião, segundo o delator, o ex-governador disse que na verdade ele era seu "verdadeiro amigo" e que os inimigos estavam do outro lado, se referindo à Justiça.
“Conforme já referi, o quadro que se desenha indica que a organização criminosa tratou de promover ameaças e garantir que o medo impedisse que os delitos fossem descobertos”, disse a magistrada.
Para Selma Arruda, essas ameaças - somadas com as ameaças relatadas nas fases anteriores da operação - indicam que é necessária a decretação da prisão dos membros da organização, "como meio de garantir a plena e eficaz colheita da prova, ou seja, a serena instrução processual".
Reprodução/PJC
O ex-secretário Arnaldo Alves (camisa branca) e o empresário Valdir Piran (camisa roxa): detidos em Brasília
“No caso presente é premente a necessidade de evitar que a organização ameace réus colaboradores ou mesmo testemunhas de modo garantir que a verdade trazida ao processo esteja o mais próximo possível da verdade real”.
"A gravidade concreta da infração é óbvia, eis que a sociedade mato-grossense assiste, perplexa, o descortinar dos bastidores do Poder em Mato Grosso, de onde se depreende a provável existência de um bando de malfeitores engravatados a quem se atribui a prática de verdadeira
sangria nos cofres públicos", afirmou.
O desvio
A investigação aponta que o pagamento da desapropriação do imóvel, no valor total de R$ 31.715 milhões a uma imobiliária –, teria tido o propósito de desviar dinheiro público em benefício da organização criminosa liderada por Silval Barbosa.
De todo o valor pago pelo governo na desapropriação, o correspondente a 50%, ou seja, R$ 15.857 milhões, teria retornado em prol da organização criminosa através de uma empresa de assessoria e organização de eventos.
O restante do valor teria sido dividido entre os demais participantes, no caso, os ex-secretários, Pedro Nadaf e Marcel De Cursi, Arnaldo Alves de Souza Neto, Afonso Dalberto e o Francisco Lima.
De acordo com a investigação, a maior parte do dinheiro desviado, um total de R$ 10 milhões, teria ficado com o ex-governador Silval Barbosa, apontado como chefe do esquema, que usou o montante para pagar uma dívida de campanha com o empresário Valdir Piran.
Cinco empresários também foram conduzidos coercitivamente para prestar depoimento. Também foram cumpridos de buscas e apreensão em residências e empresas dos investigados.
Os investigados Valdir Piran e Arnaldo Alves tiveram os mandados de prisão cumpridos em Brasília, com apoio da Polinter do Distrito Federal. Já Chico Lima foi preso no Rio de Janeiro.
A operação teve como base algumas colaborações premiadas, confissões, análise de documentos e afastamentos de sigilos bancários e fiscal de todos os envolvidos.
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2 Comentário(s).
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Haroldo Arruda 10.111 28.09.16 07h56 | ||||
É isso ai juíza Selma Arruda. Parabéns Arruda neles. | ||||
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Renata 27.09.16 21h32 | ||||
Infelizmente Dr.ª, a ameaça, não é apenas para vocês do alto escalão. Sou professora de Educação Física de uma escola pública, e não posso utilizar a quadra de esportes, espaço de grande parte dos meus trabalhos, pois tanto os alunos drogados, como os que pulam o muro, não me permitem. Dizem que todo o sistema (juiz da infância, SEDUC, etc) já prometeram, mais desde o ano passado, quando um professor dando aula na quadra, teve um revólver em sua cabeça, até agora não foi feito nada. Então não são apenas vocês. Salvem, por favor, a educação pública de MT, "salvem a professorinha". Passem e discutam com a equipe gestora, de uma antiga escola do Bairro Bela Vista, que hoje, apesar, de ter um prédio modelo, o restante... | ||||
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