LISLAINE DOS ANJOS
DA REDAÇÃO
Oito pessoas foram presas em flagrante por participarem de uma quadrilha que faturou mais de R$ 1 milhão, em apenas três meses, fraudando cartões de crédito que eram emitidos em parceria entre a Rede de Supermercados Modelo e a Bradescar, empresa do banco Bradesco, com sede em São Paulo.
Ao todo, aproximadamente 20 pessoas foram detidas por participação no esquema, entre elas sete funcionários do supermercado, que trabalhavam em duas unidades da rede, localizadas no Pantanal Shopping Center e no bairro CPA II, na região da Morada da Serra.
De acordo com informações do delegado do GCCO (Grupo de Combate ao Crime Organizado), Gianmarco Paccola Capoani, o esquema era simples e não havia formas de as vítimas se protegerem do golpe, uma vez que elas não precisavam ser clientes do mercado para terem seus nomes usados pela quadrilha.
Thiago Bergamasco/MidiaNews
|
 |
Cartões fraudados apreendidos pelo GCCO evitaram prejuízo de R$ 600 mil
|
O chefe do esquema, segundo Paccola, era o ex-comerciante Edvaldo da Silva, de 45 anos, que, por possuir acesso ao sistema Serasa, coletava dados e “fabricava” cadastros, usando o nome de centenas de vítimas. Estima-se que aproximadamente mil pessoas foram prejudicadas com o golpe.
“Ele fazia análise de cadastro e captava os dados dos clientes bons, que são as vítimas. Depois, ele entrou em contato com uma funcionária do supermercado. Depois, captou mais seis funcionárias para integrar o esquema”, explicou.
De posse dos dados, os funcionários, ilegalmente, faziam a solicitação para aprovação da emissão de cartões de crédito junto à instituição financeira parceira da rede. Os cartões eram, após aprovados, enviados para os supostos clientes, em endereços envolvidos no esquema.
“Eles usavam os dados para emitir cartões de crédito junto à instituição financeira e os cartões eram destinados a sete endereços. A partir daí, eles estouravam os cartões, ou com troca de dinheiro vivo na praça e com envolvimento de alguns outros comerciantes, ou faziam compras ilegais, causando um prejuízo de aproximadamente R$ 1 milhão ou mais”, disse o delegado.
Segundo Paccola, cerca de 400 cartões foram apreendidos durante a operação, que ganhou o nome de “Sete Erros”, em referência ao número de endereços falsos utilizados pela quadrilha para concentrar o recebimento dos cartões. Destes, 178 estavam ainda bloqueados, o que evitou um prejuízo maior.
“A operação se chama Sete Erros, justamente porque são mais de mil vítimas e eles concentraram as fraudes de cartões de crédito em apenas sete endereços. E esses endereços não eram efetivamente das pessoas que nós queríamos pegar. Por isso, nós tivemos que fazer uma segunda diligência para chegar às pessoas diretamente envolvidas no esquema. Foram evitados, com as apreensões dos cartões e prisão dessas pessoas, uns R$ 600 mil em prejuízo”, afirmou.
Thiago Bergamasco/MidiaNews
|
 |
Comerciantes também participaram de esquema, segundo o delegado do GCCO
|
Participação de comerciantesSegundo Paccola, há comerciantes envolvidos no esquema, uma vez que eles emprestavam as máquinas de cartões de crédito dos estabelecimentos para auxiliar no “estouro” dos cartões, em troca de uma porcentagem maior da venda – que, na verdade, não era feita –, trocando por dinheiro vivo.
Os cartões também eram utilizados para compras ilegais pela cidade.
“Nós notamos que tinham algumas compras, em salões de beleza, por exemplo, com várias passagens de cartões, que passavam de mil reais, o que se verifica facilmente que é uma fraude”, disse.
InvestigaçãoO que desencadeou a ação do GCCO foram denúncias feitas pelo banco Bradesco. A investigação, que durou cerca de dois meses, contou com o apoio do departamento de segurança corporativa da instituição financeira.
“As denúncias vieram da instituição financeira, que constatou irregularidades no sistema. Nós aprofundamos os trabalhos de investigação e desencadeamos a operação. As informações que motivaram a análise criminal foram passadas há cerca de dois meses”, afirmou o delegado.
Segundo Paccola, a Polícia Civil passou, então, a analisar a movimentação dos logins e senhas das máquinas de funcionários da empresa do supermercado que emitiam os cartões.
“A partir daí, nós fomos para sete endereços, que nos remeteram a outros sete endereços, totalizando 14 locais. Esse conjunto de diligências que nos permitiu chegar à quadrilha. Consideramos que a operação atingiu o resultado pretendido”, afirmou.
Thiago Bergamasco/MidiaNews
|
 |
Televisores apreendidos durante a Operação "Sete Erros"
|
De acordo com o delegado, alguns dos presos em flagrante foram detidos quando tentavam queimar os objetos que os incriminariam.
Para Paccola, o esquema, por parecer simples, se propagou rapidamente, dentro da rede de supermercados.
“Nós percebemos que se propagou, dentro da empresa, essa prática. O funcionário deve pensar dez vezes antes de entrar em uma situação dessas, pois se trata de uma quadrilha que se organizou para praticar esse tipo de crime”, afirmou.
ConsequênciaO GCCO vai acionar a Sefaz (Secretaria de Fazenda), para agir nos locais onde os cartões eram usados com a conivência dos comerciantes, por se tratar de crimes contra a ordem tributária.
“Nós vamos acionar a Sefaz para agir nos locais onde a gente notou que eles agiam com os cartões para ganhar um dinheiro de comissão, porque o produto da venda não saiu da loja”, disse o delegado.
Por meio da assessoria, a Rede de Supermercados Modelo informou que nenhum cliente do Cartão Modelo será prejudicado, tendo em vista que a direção da empresa adotou medidas no sentido de bloquear os cartões fraudados -
clique AQUI.
OperaçãoAo todo, 30 policiais participaram da operação, que resultou na apreensão de aproximadamente 400 cartões de crédito, quatro televisores de luxo avaliados em R$ 19 mil, três notebooks avaliados em R$ 5 mil, um videogame no valor de R$ 2 mil e uma motocicleta que custou R$ 5 mil, além de aparelhos celulares e eletroeletrônicos.
Das 20 pessoas detidas na operação, seis foram indiciadas – entre elas quatro funcionários do Modelo – e oito foram presas em flagrante (veja a relação de nomes abaixo).
Eles deverão responder pelos crimes de formação de quadrilha ou bando, falsidade ideológica e estelionato, que somam penas de até 11 anos de reclusão.
Os presos foram encaminhados ao CRC (Centro de Ressocialização de Cuiabá – antigo Presídio do Carumbé) e à Penitenciária Feminina Ana Maria do Couto May.
Foram presos em flagrante:Edvaldo da Silva, 45 anos – considerado o chefe da quadrilha e responsável epal coleta de dados no Serasa;
Vilmar da Rocha Loveira, 41 anos – apontado como o braço direito de Edvaldo, que ajudava a pensar o esquema;
Wirley da Silva Almeida, 24 anos – Comerciante que passava os cartões fraudados em seu estabelecimento;
Fernanda Silva Pereira Gomes, 30 anos – Comerciante que emprestava a máquina de cartão de crédito de seu estabelecimento para ajudar a quadrilha;
Cristiane Maria da Silva, 29 anos – funcionária da rede de supermercados, que auxiliava na emissão de cartões fraudados;
Pauline Bianca Pedroso, 24 anos – funcionária da rede de supermercados, que auxiliava na emissão de cartões fraudados;
Luiz Cláudio da Mata Figueiredo, 34 anos – casado com Pauline e que trabalhava em uma outra empresa;
Jussara Cruz de Souza, 26 anos – funcionária da rede de supermercados, que auxiliava na emissão de cartões fraudados. Por estar amamentando, teve a fiança arbitrada e não foi encaminhada ao presídio.
Leia mais
AQUI sobre o caso, conforme
MidiaNews antecipou na noite de sexta-feira (21).