LAÍSE LUCATELLI
DA REDAÇÃO
O senador Pedro Taques (PDT) defendeu que a CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) do Cachoeira vá além da investigação dos negócios ilegais do bicheiro, que, na sua avaliação, é somente um pequeno elo da cadeia.
“O Carlinhos Cachoeira é o menor nessa história. Ele já está sendo processado em Goiás, e vai ser condenado. Eu li a denúncia, estou acompanhando a instrução [do processo]. Nós precisamos avançar além do Cachoeira, saber o que está abaixo da cachoeira”, declarou o senador, durante uma entrevista ao programa "Chamada Geral"
, da Rádio Mega FM.
“Por exemplo, o nome da CPI é CPI do Cachoeira. O alvo principal não é o Cachoeira. São as relações do Cachoeira, um empresário do ilícito, com empresas que fazem licitação. Com empreiteiras, com a Construtora Delta que, em 8 anos, recebeu quase R$ 4 bilhões do PAC. É isso que nós queremos saber. Essa empresa financiou políticos, deputados, senadores? É aqui que nós queremos avançar”, apontou o senador.
Taques aproveitou para desfilar uma lista de questionamentos que ele espera sejam respondidos com o desenrolar das investigações. “Eu quero saber: o Cachoeira fraudava licitação através da Delta? O Cachoeira e o senador Demóstenes são sócios ocultos da Delta? Por que a Delta cresceu tanto em tão pouco tempo? Como uma empresa que tem 50 anos é vendida em 45 dias? É isso que nós precisamos saber, e estou analisando os documentos”, disse.
O senador observou que, em muitos momentos, “sente cheiro” de pizza, mas acredita que, por já haver toda uma investigação anterior, o inquérito tem mais chances de ter resultados concretos.
“Em determinados momentos, você sente o cheiro de orégano, de cebola, de calabresa. Mas, essa CPI é uma CPI diferenciada. A CPI, geralmente, parte do zero, e essa não. Ela já tem pessoas presas, processadas, e logo, tenho certeza, serão condenadas. A CPI parte de um conjunto de documentos e nós precisamos avançar”, disse.
Entre os resultados esperados por Taques, estão mudanças na legislação e normas que dificultem fraudes com dinheiro público. “Eu quero crer que, no relatório final dessa CPI, possamos mostrar aos cidadãos que precisamos mudar esta lei, recomendar que essas condutas não sejam feitas. Por exemplo, o chamado mergulho em licitação. A Delta mergulha na licitação, apresenta um preço pequeno, para depois trabalhar com aditivos”, exemplificou.
Taques voltou a afirmar que a CPI deve se pautar por provas documentais, e não por depoimentos, já que todos têm direito constitucional de permanecer em silêncio e não produzir provas contra si.
“Como estamos tratando de crimes contra o sistema financeiro, fraude em licitação, isso se demonstra através de prova documental. No Brasil nós não vivemos igual nos Estados Unidos que, de repente, aparece uma testemunha e confessa tudo. Geralmente, aparece uma amante, ex-namorada, ex-mulher que confessa. Isso existe, mas é muito difícil”, apontou.
Ele acredita, no entanto, que o ex-diretor-geral do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT), Luiz Antônio Pagot, pode ser uma testemunha capaz de revelar muita coisa.
“Nós temos 30 requerimentos para ouvir o Pagot. Segundo Maggi, ele é um fio desencapado. Eu entendo que o Pagot tem que depor, sim. Mas ele não pode chegar lá e ficar em silêncio. Ele já disse nas revistas semanais este final de semana que quer depor, agora não tem mais jeito. Entendo que ele tem que ser ouvido e possa esclarecer ao Brasil, a Mato Grosso, o que efetivamente ocorreu. Ele revelou fatos graves, revelou que fazia arrecadação de recursos para o PSDB, o PT, ele jogou pra todo lado”, afirmou o senador.
Bate-bocaAo falar sobre o bate-boca que protagonizou com o deputado Silvio Costa (PTB-PE), em sessão da CPI na semana passada (leia mais
AQUI), Taques garantiu que, em momento algum, defendeu o senador Demóstenes Torres (sem partido-GO).
“O Demóstenes tem o direito constitucional à defesa e, para isso, ele paga advogado, bem pago, para fazer sua defesa. Não defendi o senador Demóstenes e já formei a minha convicção, os fatos contra ele são gravíssimos. E eu defendo a votação aberta, que cada senador, no momento do julgamento, assuma sua responsabilidade”, declarou o senador.
“Eu defendi, naquele dia, a Constituição. Se você pegar o depoimento do Cachoeira, eu levantei uma questão de ordem dizendo que, quando o cidadão exerce o direito constitucional ao silêncio, nós não podemos lhe fazer perguntas. E no caso do senador Demóstenes, a mesma coisa: quando um cidadão exerce o direito constitucional ao silêncio, ele não pode ser humilhado. Naquele momento, eu representava o Estado de Mato Grosso. O Estado não pode se igualar a criminosos. O Estado não pode torturar, o Estado não pode humilhar”, afirmou Taques.