LISLAINE DOS ANJOS
DA REDAÇÃO
O número de mulheres assassinadas na Capital, vítimas de violência doméstica, quase dobrou neste ano, segundo dados do Núcleo de Enfrentamento à Violência Doméstica e Familiar Contra a Mulher de Cuiabá, ligado ao MPE (Ministério Público Estadual).
Em entrevista ao
MidiaNews, por telefone, a coordenadora do núcleo, promotora Lindinalva Rodrigues Dalla Costa, informou que, apenas nos 10 primeiros meses deste ano, 16 mulheres foram mortas, enquanto nove vítimas foram registradas em 2011. De acordo com ela, o mapa de homicídio das mulheres já é realizado pelo MPE desde 2008.

"Uma mulher assassinada já é uma tragédia. Só em 2012, já foram 16 mulheres mortas, e nós ainda nem terminamos o ano", diz a promotora
“Uma mulher assassinada já é uma tragédia. Só em 2012, já foram 16 mulheres mortas, e nós ainda nem terminamos o ano. É muito triste e deixa todo mundo preocupado”, afirmou.
A promotora ressaltou que o aumento significativo reflete a necessidade de implantar mais campanhas contra a violência doméstica na Capital, principalmente nas escolas, a fim de mudar a "cultura machista", que, segundo ela, ainda predomina na sociedade.
“Isso é uma questão cultural. Não é uma lei que vai impedir. Nós temos que batalhar por mais campanhas. Não essas, de ir pra rua em um dia e outro, mas sim para colocar esses temas nos currículos escolares, para que, desde pequenos, os homens e as mulheres aprendam a se relacionar melhor, sem essa relação de possessividade, que pode levar, em casos extremos, a esses homicídios”, disse.
Lindinalva Dalla Costa ressaltou que a Lei Maria da Penha é aplicada com severidade em Cuiabá, sendo que, atualmente, não há nenhum réu impune, à solta na cidade.
“Ou o agressor está preso ou está foragido, com a prisão preventiva decretada. E nós temos, nesses casos, 100% de condenação. Nunca tivemos uma absolvição”, disse.
Bairros violentos

"Nós temos, nesses casos, 100% de condenação. Nunca tivemos uma absolvição", afirma Lindinalva
A promotora também coordenou a criação de um Mapa da Violência Contra a Mulher em Cuiabá, neste ano, e que revelou quais são os bairros da Capital que detêm os maiores índices de agressão ao gênero feminino.
De janeiro de 2011 a setembro deste ano, foram registradas 2.488 agressões contra as mulheres e as regiões que lideram o ranking são o Coxipó e a Morada da Serra. Os bairros que ocupam as quatro primeiras posições do levantamento são Pedra 90 (149 casos), Grande CPA (124 casos), Altos da Serra (66 casos) e Doutor Fábio (55 casos).
Mudança de cultura
Lindinalva Dalla Costa afirmou que a Promotoria de Justiça de Violência Doméstica acompanha cada caso de mulheres assassinadas por esse motivo na Capital, e que a diminuição dessas ocorrências depende da vontade de a vítima prestar e manter a queixa na Polícia.
“Nenhuma lei é capaz de impedir um homem, uma mulher, qualquer pessoa, de cometer um crime. Acontece que essas mulheres que foram assassinadas não tinham processo no Judiciário, ou seja, elas não tinham feito nenhuma denúncia ainda. Talvez elas estivessem sofrendo abusos há muito tempo, mas nunca tiveram coragem de denunciar. Duas delas, aliás, já tinham denúncias, mas desistiram da ação, fazendo com que o Estado ficasse impedido de atuar para defender os seus direitos”, explicou a promotora.

"Nenhuma lei é capaz de impedir um homem, uma mulher, qualquer pessoa de cometer um crime", pontua a promotora
Vítimas
Apesar de as mulheres serem as vítimas mais frequentes desse tipo de crime passional, a promotoria já registrou, apenas neste ano, os casos de dois homens que também foram assassinados, na mesma circunstância, pelo companheiro da mulher-alvo do crime.
“Também tivemos dois homens assassinados na mesma circunstância da violência doméstica. Um era primo do réu, que foi assassinado por um policial junto com a então esposa dele, e um garotinho de quatro anos, morto pelo pai na última semana, quando também assassinou a ex-companheira”, afirmou.
Segundo a promotora, o homem mata, na maioria dos casos, por ciúmes.
“O homem mata a mulher porque ela não aceita voltar com ele, porque ele ainda se vê como o dono daquela mulher, não reconhecendo os direitos humanos das vítimas, os direitos de elas decidirem o que querem, independente da vontade deles. Isso vem de uma cultura machista, de um comportamento de que o homem manda e a mulher obedece. E isso acaba fazendo com que elas sejam punidas, perdendo a própria vida, como vem acontecendo nesses últimos dias em Cuiabá, o que é lamentável”, disse.