A Delegacia Fazendária (Defaz) abriu um inquérito para investigar a suspeita de que a prefeita de Juara (696 Km da Cuiabá), Luciane Bezerra (PSB), teria recebido R$ 700 mil do ex-secretário de Estado, Pedro Nadaf.
A abertura do inquérito foi determinada pelos delegados Marcio Moreira Vera e Alexandra Fachone nas investigações da Operação Sodoma 4.
A suspeita foi levantada pelo próprio ex-secretário. Em depoimento à Defaz, ele afirmou que, em 2014, a pedido do ex-governador Silval Barbosa (PMDB), teria entregado o valor a Luciane Bezerra, então deputada estadual, como pagamento de uma dívida.
O pagamento, de acordo com Nadaf, foi realizado com recursos arrecadados em esquema de desvio de R$ 15,8 milhões dos cofres públicos, por meio da desapropriação de uma área de 55 hectares no Bairro Jardim Liberdade, em Cuiabá.
Ainda de acordo com o ex-secretário, Luciane tinha conhecimento de que o valor recebido era fruto de esquema de corrupção.
Cheque para irmão
No documento que determinou a abertura do inquérito, os delegados da Defaz também levaram em consideração o fato de um cheque da empresa do delator da operação, Filinto Muller, a SF Assessoria e Organização de Eventos, ter sido creditado na conta da empresa do irmão da prefeita.
Conforme relatório realizado pela polícia, no dia 15 de maio de 2014, a empresa J. Lisboa da Hora EPP., com sede em Juara, recebeu depósito de um cheque no valor de R$ 51 mil.
Na época, o irmão de Luciane, Celso Ricardo Borba Azoia, segundo a Defaz, era o procurador legal da empresa.
A SF Assessoria, de acordo com as investigações, foi criada por Filinto Muller especificamente para facilitar a operacionalização do esquema. Vários cheques da empresa foram emitidos para integrantes da suposta organização criminosa.
Fac-símile de trecho do documento assinado pelos delagados da Defaz:
Depoimento
Em depoimento em que confessou crimes de corrupção, Nadaf contou que em 2014 Silval Barbosa lhe disse possuir uma dívida com a ex-deputada no valor de R$ 1 milhão.
Segundo o ex-secretário, Silval relatou que Luciane não estaria satisfeita em receber os valores das mãos do ex-chefe de gabinete, Silvio Cezar Correa, e preferia de Nadaf, por ser pessoa de confiança.
Após a determinação do ex-governador, Nadaf contou ter repassado à deputada o valor de R$ 700 mil oriundo de propina e desvio de dinheiro público, que foi entregue a ela pessoalmente no gabinete da Casa Civil, sendo parte em dinheiro e outra em cheques, inclusive em nome do delator Filinto Muller.
Nadaf contou ainda que Luciane o procurou por quatro vezes entre os meses de maio e agosto de 2014 e lhe repassou os valores para a quitação da dívida, que ele disse não conhecer a origem.
“Que não sabia dizer acerca da origem dessa dívida entre Luciane Bezerra e Silval Barbosa, contudo sabe dizer que se tratava de uma dívida no valor de R$ 1 milhão, referente a algo ilícito que cometeram, mas que Silval nada disse ao interrogando, provavelmente sendo algo referente a algum benefício efetuado pela então deputada a Silval na Assembleia Legislativa. Que para pagar essa dívida de Silval com Luciane Bezerra, o interrogando utilizou de dinheiro oriundo de outras situações de desvios de dinheiro público ou propina destinada a Silval Barbosa. Que Luciane Bezerra sabia que pagamento da dívida seria efetuado através de desvios de recursos públicos”, diz um trecho do depoimento.
Outro lado
Por meio de sua assessoria de imprensa, Luciane Bezerra afirmou que ainda não foi chamada para prestar esclarecimentos sobre o caso, mas que já se colocou à disposição para colaborar.
"A prefeita municipal de Juara, Luciane Borba Azóia Bezerra, afirma que já se colocou à disposição da Justiça e assim que chamada prestará os devidos esclarecimentos", diz a nota enviada ao MidiaNews.
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