Cuiabá, Segunda-Feira, 16 de Junho de 2025
"GRILAGEM" NA CHAPADA
02.07.2012 | 17h40 Tamanho do texto A- A+

MPE aciona prefeitura e 180 pessoas por invasão de área

Ocupação desordenada pode agravar problema de captação de água no Município

MidiaNews

Prefeito Flávio Daltro pleiteou, junto à Sema, projeto para liberação de loteamento

Prefeito Flávio Daltro pleiteou, junto à Sema, projeto para liberação de loteamento

KATIANA PEREIRA
DA REDAÇÃO

A Primeira Promotoria Cível da Comarca de Chapada dos Guimarães (67 km ao Norte de Cuiabá) propôs uma ação civil pública contra a Prefeitura Municipal e todas as pessoas que ocupam, de forma irregular, a área de domínio público conhecida como Santa Elvira, às margens do rio Monjolinho, principal fonte de captação de água da cidade.

A ação, na qual o MidiaNews teve acesso, foi protocolada na segunda-feira (2), na Vara Única da Comarca local.

No início do mês de junho, o MidiaNews e o Jornal da Chapada denunciaram a grilagem das áreas na região. Leia mais AQUI.

O Ministério Público Estadual também acionou Jolenil Ribeiro Pires, Expedito Toscano Sobrinho, Mariano Fidelis Santos Filho, identificados como líderes da invasão.

Ação civil

Na ação civil pública, o MPE requer à Justiça uma liminar para desocupação imediata dos réus que ocupam a área. A desocupação deverá ser realizada com a desmontagem das barracas e a demolição de eventuais edificações ali realizadas.

O trabalho de desmonte do grilo habitacional deverá ser realizado pela co-ré Prefeitura Municipal, com auxílio das autoridades policiais militar e civil, caso necessário.

Também foi proposta uma condenação solidária dos réus na obrigação de fazer, "consistente na remoção de todos os resíduos sólidos depositados na área para local adequado". A remoção deverá ocorrer no prazo de 10 dias, sob pena de pagamento de multa diária no valor de R$ 1 mil.

Deverá ser realizada uma perícia técnica, a fim de delimitar as áreas de preservação permanente nos bairros Sol Nascente e Vista Alegre. Além de qualquer outro local que compreenda a área de recarga de mananciais superficiais e subterrâneos, bem como avaliar a ocorrência e a intensidade de eventuais danos ambientais em referidos locais.

Todos os ocupantes da área deverão ser citados, mesmo os que tenham invadido o local após a diligência de identificação.

A promotoria pede ainda que os réus sejam condenados a desocupar imediatamente o terreno, por se tratar de área de preservação ambiental e área pública.

Prefeitura Municipal e todos os posseiros deverão ser condenados a pagar uma indenização por danos causados ao meio ambiente. O valor deverá ser arbitrado pela Justiça e será revertido ao Fundo Municipal de Defesa da Criança e do Adolescente.

Responsabilidade da Prefeitura

A promotoria salienta que a Prefeitura Municipal se esquivou em exercitar seu poder de Polícia consistente em afastar a hipótese da constituição de novo núcleo habitacional em área vulnerável.

"O Município limitou-se a adotar 'posturas de gabinete' que não renderam proveito útil em impedir à ocupação da área "

A promotoria relatou que ação foi motivada por denúncias de que populares (provavelmente, instigados por personagens do contexto político local) invadiram área de domínio público.

Foi determinada a realização de diligência in loco, a fim de verificar a ocupação da área.

O relatório do oficial de Justiça confirmou a ocupação clandestina de aproximadamente 180 famílias no local.

Problemas ambientais

O MP entende que a desocupação da área deve ser imediata, visto que já se observa a precária “divisão dos lotes”. A demora em coibir a invasão pode resultar na instalação de novas pessoas, em local impróprio para moradia.

Foi analisado que a continuidade na ocupação vai agravar os problemas ambientais, além de interferir na gestão urbana - má qualidade de vida e aumento das desigualdades nas cidades –, poluição das águas, solo e ar, precariedade de saneamento básico, ineficiência no serviço de água, energia, coleta de resíduos, além do aumento do desemprego e da violência.

Risco à captação de água
 
Conforme consta dos laudos/relatórios técnicos, solicitados pelo MP e realizados pela Secretaria Estadual de Meio Ambiente (Sema), a área ocupada é exatamente de recarga dos rios Monjolo e Cachoeira Rica.

A localidade abriga áreas ou zonas de recarga que contribuem para a alimentação dos aquíferos, por infiltração direta ou por escoamento seguido de infiltração.

Assim, a promotoria entendeu que é importante reconhecer que a permanência das famílias nessa área, promoverá impactos ambientais severos, a ponto de degradar e inviabilizar a principal fonte de captação de água da cidade.

A promotoria justificou que Chapada dos Guimarães enfrenta problemas de captação, abastecimento e distribuição de água potável, que são de conhecimento geral. E que, na estiagem, grande parcela da população sofre com a escassez de água e as fontes de captação funcionam no limite operacional.

Partindo do contido no relatório técnico, a promotoria entende que é forçoso reconhecer que a situação se agravará, caso o Córrego Monjolinho seja comprometido com a ocupação.

Projeto habitacional

O superintendente de fiscalização da Sema, Paulo Ferreira Serbija, disse, em entrevista ao MidiaNews, no início do mês de junho, que a Prefeitura Municipal, por meio de técnicos da área de habitação, se comprometeu em realizar um  projeto para a possível liberação da área, para a construção de loteamento popular.

Na época, em entrevista ao site, o prefeito Flávio Daltro (PSD) revelou que estava ciente da situação de invasão e admitiu que a Prefeitura procurou a Sema para fazer uma avaliação técnica sobre a área e possível desapropiação do local.

"Fomos até à Sema (Secretaria de Estado de Meio Ambiente), juntamente com vereadores e uma comissão dos invasores. Enviamos um estudo preliminar para autorização da Sema. Temos um pré-projeto, um estudo preliminar e, agora, estamos providenciando um projeto concreto feito pelo departamento de engenharia e vamos apresentar, dentro de 10 a 15 dias, esse projeto completo. Aí, a Sema que vai dizer se pode ou não fazer. Eu não posso dizer se essa área é de preservação permanente ou não, pois não sou engenheiro. Se a Sema aprovar o projeto nós vamos fazer esse loteamento. Por que não vamos fazer? ", disse Daltro.

Outro lado

O MidiaNews tentou contato com o prefeito Flávio Daltro, para falar sobre a ação do Ministério Público, porém, até o fechamento dessa edição ele não foi localizado por meio de seu telefone celular.

Veja mais fotos da invasão em Chapada dos Guimarães:
GALERIA DE FOTOS

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COMENTÁRIOS
11 Comentário(s).

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francione  04.07.12 12h51
daltro,foi meu colega na ufmt.sempre atuou em cargos de chefia.nunca deixou a desejar.eu creio que não vai ser agora.é uma pessoa que respeito muito.é coerente.
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Josana Salles  03.07.12 16h51
Até que enfim o MP tomou uma providência.
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Pedro Mura  03.07.12 13h38
Amigos, nao sei muito sobre a realidade da area da Santa Elvira, porem acredito ser prévio da nossa parte culpar ou julgar alguém que seja , é necessário o conhecimento do estudo de impacto ambiental da região, já que existe duas comunidades na região que seja feito realmente o estudo e nao maquiado visando atender a interesses de particulares. E claro se existir realmente a possível degradação , tem que ser remanejados as famílias ali instaladas.
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josé de arimateia  03.07.12 11h46
Na época da politica,o abuso dos candidatos chega a esse ponto não respeitando nada.Este é o caso do incompetente Flávio Daltro,prefeito de Chapada que no momento faz politica indiretamente para eleger o seu candidato para prefeito, já que o mesmo não tem condições para candidatar.
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Leonardo  03.07.12 10h24
Parabéns ao MPE pela intervenção. Tem hora certa e lugar certo para que a prefeitura construa casas populares e, principalmente, para quem realmente precisa.
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