Cuiabá, Quinta-Feira, 25 de Dezembro de 2025
“ATORMENTADO POR DEMÔNIOS”
25.12.2025 | 14h00 Tamanho do texto A- A+

Assassinato de personal trainer por policial militar marcou o ano

Ela estava indo para a academia em que dava aulas particulares quando foi atingida por vários tiros

Reprodução

Rozeli da Costa Sousa Nunes, de 33 anos, foi morta por um policial militar por causa de disputa judicial

Rozeli da Costa Sousa Nunes, de 33 anos, foi morta por um policial militar por causa de disputa judicial

LARISSA AZEVEDO
DA REDAÇÃO

O homicídio da personal trainer Rozeli da Costa Sousa Nunes, de 33 anos, em Várzea Grande, pelo policial militar Raylton Duarte Mourão e seu comparsa, Vitor Hugo Oliveira da Silva, no dia 11 de setembro, marcou o ano pela frieza da morte e identidade do principal suspeito. 

 

Nesse dia, acordei com uma sensação e a voz falando mais forte: ‘Mata essa desgraçada. Vai lá e mata ela’. E aí peguei e fui

De acordo com as investigações da Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), Raylton cometeu o crime por causa de uma disputa judicial. Rozeli pedia R$ 24,6 mil de indenização por danos morais e materiais da empresa Reizinho Água Potável, do policial e de sua esposa, a farmacêutica Aline Valandro Kounz. 

 

A vítima foi morta dentro de seu carro, no bairro Canelas, ainda próxima de sua casa, quando saía para trabalhar em uma academia, onde dava aulas particulares. Raylton vigiava a residência de Rozeli há semanas, conforme identificou a DHPP, por meio de análise de câmeras de segurança. 

 

Poucos dias depois do crime, no sábado (13), o policial e a esposa foram alvos de busca e apreensão, mas a Polícia não os encontrou em casa. Na semana seguinte ao crime, eles passaram a ser considerados foragidos pela Justiça. 

 

No dia 21 de setembro, ele se apresentou à Delegacia da Mulher, onde teve o seu mandado de prisão cumprido. A sua esposa passou por audiência de custódia no dia 23, e disse ser inocente, sendo solta por falta de provas. 

 

Raylton e Vitor Hugo, preso em 30 de setembro, foram indiciados em outubro pela morte da personal. Ela deixou o marido, que é caminhoneiro e estava trabalhando no interior do estado, e dois filhos. 

 

Reprodução

Caso Rozeli da Costa Souza Nunes

Raylton e Vitor Hugo no dia da morte de Rozeli

O motivo do crime

 

As investigações da Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) apontaram que o homicídio foi motivado por uma disputa judicial entre Rozeli e a empresa Reizinho Água Potável. 

 

A personal trainer ingressou com uma ação de indenização por danos morais e materiais, no valor de R$ 24,6 mil (R$ 15 e R$ 9,6 mil, respectivamente), após um acidente, que ocorreu em março deste ano, na avenida Filinto Müller. 

 

A defesa da vítima afirmou que Rozeli trafegava pela via principal, sentido Centro, quando foi "surpreendida pela manobra abrupta e irresponsável" do motorista do caminhão, "que adentrou repentinamente na via preferencial sem qualquer sinalização prévia ou uso da seta indicativa de conversão".

 

Para evitar a colisão, ela precisou frear repentinamente o veículo, momento em que o motociclista que trafegava atrás colidiu em seu carro. O condutor da moto não tinha Carteira Nacional de Habilitação (CNH).

 

Rozeli tentou resolver a situação de forma amigável, mas não obteve retorno, o que a levou a buscar reparação judicial.

 

Em depoimento, Raylton afirmou que “perdeu o controle da situação” diante do andamento do processo e disse que se sentia pressionado pelo desdobramento da ação judicial. 

 

Imagens de câmeras de segurança 

 

A DHPP utilizou imagens de câmeras de segurança para solucionar o crime. Por elas, foi possível ver, além do crime, a ronda dos suspeitos pelo bairro da vítima, e de onde vieram, levando a Polícia às suas identidades.  

 

Registros mostram o momento em que os dois homens se aproximam do carro de Rozeli em uma motocicleta preta e efetuaram cerca de quatro disparos, atingindo a vítima ainda dentro do veículo.

 

 

Outras gravações mostraram que Raylton teria monitorado a casa da personal trainer semanas antes do crime, reforçando a tese de que a execução foi planejada. Imagens também flagraram a fuga do casal dias após o homicídio, o que contribuiu para que a Polícia Civil concentrasse as investigações no policial militar.

 

Depoimentos

 

Em depoimento, Raylton confessou ser o autor dos disparos que mataram Rozeli e afirmou que estava na garupa da motocicleta. Ele alegou que foi “atormentado por demônios” nos dias que antecederam o crime e negou que a execução tenha sido premeditada.

Eu perguntei para ele ontem se ele tomava remédio, ele falou que não. Diferentemente do que ele falou lá na custódia. Eu perguntei para ele: 'isso teria ocasionado sua raiva?' Ele falou: 'não sei te responder'

“Nesse dia, acordei com uma sensação e a voz falando mais forte: ‘Mata essa desgraçada. Vai lá e mata ela’. E aí peguei e fui. Saí do quarto e fui tomar banho no banheiro que tem no fundo para não acordar minha esposa. Vesti uma roupa lá na edícula do fundo e saí empurrando a moto até o portão, só dei partida bem encostadinho no portão para não acordar minha esposa e fui fazer essa loucura”, disse Raylton, em trecho de depoimento.

 

O delegado Bruno Abreu, responsável pelo caso, ressaltou contradições na fala do militar, apontando que ele indicou em outros momentos da fala que pensava no crime há dias.

 

Ele ainda alegou "trasntornos psiquiátricos" para tentar evitar prisão, mas também foi pego mentindo sobre iso diversas vezes, explicou o delegado. "Eu perguntei para ele ontem se ele tomava remédio, ele falou que não. Diferentemente do que ele falou lá na custódia. Eu perguntei para ele: 'isso teria ocasionado sua raiva? A falta do remédio teria ocasionado isso?' Ele falou: 'não sei te responder'. Então, ele inclusive mentiu na audiência de custódia", disse. 

 

Raylton se recusou a revelar a identidade do piloto da motocicleta durante o depoimento. O condutor foi identificado, posteriormente, como Vitor Hugo, e preso no dia 30 de setembro. À Polícia, ele alegou que não sabia do planejamento do crime, e afirmou ter sido chamado por Raylton para “capinar um lote”.

 

No entanto, o delegado afirmou não acreditar na versão apresentada pelo comparsa do militar.

 

 

Indiciamento

 

Em outubro, Raylton e Vitor Hugo foram indiciados pela morte da personal trainer. O inquérito da DHPP reuniu imagens de câmeras de segurança, depoimentos e dados da investigação, que ligaram o crime à disputa judicial que motivou o crime. 

 

Eles foram indiciados por homicídio qualificado, com as agravantes de motivo fútil e recurso que impossibilitou a defesa da vítima.

 

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