LISLAINE DOS ANJOS
DA REDAÇÃO
Os pronto-atendimentos dos hospitais particulares e filantrópicos de Cuiabá irão atender apenas casos de urgência e emergência, a partir das 7h desta quarta-feira (10).
Cirurgias eletivas já foram suspensas nas unidades, que também estão evitando realizar novas internações, por falta de equipe em número suficiente.
Os diretores alegam descumprimento, por parte dos técnicos de enfermagem em greve desde o dia 1º de julho, do percentual mínimo de funcionários em serviço, determinado pelo Tribunal Regional do Trabalho (TRT).
Na sexta-feira (5), o tribunal determinou que, durante a greve, apenas 30% dos técnicos deveriam se manter atuando nas áreas abertas (PAs, centros cirúrgicos, enfermarias, apartamentos) e 50% nas áreas fechadas (Unidades de Terapia Intensiva).

"Estamos pedindo à população para não procurar os nossos PAs, pela dificuldade de atendimento por parte dos técnicos de enfermagem"
De acordo com o presidente do Sindicato dos Estabelecimentos de Serviços de Saúde de Mato Grosso (Sindessmat), José Ricardo de Mello, da forma como está, é “impossível” os hospitais se manterem de portas abertas.
“Estamos pedindo à população para não procurar os nossos PAs pela dificuldade de atendimento por parte dos técnicos de enfermagem, porque com 30% de pessoal fica difícil manter os hospitais funcionando”, afirmou.
Ao
MidiaNews, Mello alegou que a medida foi necessária para evitar a queda nos atendimentos oferecidos aos pacientes.
“Tomamos essa decisão hoje. Estamos adequando os atendimentos para não colocarmos em risco a vida do paciente, porque nós estamos vivendo um caos. O técnico de enfermagem é quem cuida do doente, dá a medicação, que tem a relação direta com o paciente”, disse.
Segundo Mello, por mês, a média de pacientes atendidos nos pronto-atendimentos dos hospitais de Cuiabá, Várzea Grande e Rondonópolis – onde a greve foi deflagrada – é de aproximadamente oito mil pessoas por mês.
Já o número de cirurgias eletivas suspensas em uma unidade de saúde do porte do Hospital Santa Rosa, em Cuiabá – do qual ele é diretor – chega a 30 por dia.
“Estamos fazendo, no máximo, 10 cirurgias por dia. Ainda assim, estamos priorizando apenas urgência e emergência, que não podem esperar, não podem ser adiadas. Isso está gerando muito transtorno, mas não temos o que fazer. Da forma como está, inviabiliza o hospital”, disse.

"Isso está gerando muito transtorno, mas não temos o que fazer. Da forma como está, inviabiliza o hospital"
“A população está reclamando, está sentindo, porque há uma diminuição da qualidade no atendimento aos pacientes nos hospitais. E os profissionais que estão trabalhando estão cansando. E o que eu posso fazer por eles?”, completou.
José Ricardo Mello afirmou que o Sindessmat apenas irá orientar os hospitais a retomarem o atendimento normal nas unidades particulares e filantrópicas durante a greve, caso o TRT refaça o cálculo de percentual mínimo de técnicos de enfermagem que devem ser mantidos trabalhando nas unidades.
Para o sindicato, o percentual mínimo para garantir o atendimento e as portas dos hospitais abertas seria de 70%.
“Queremos que seja refeito o número de funcionários compatíveis com a necessidade dos hospitais. Nós temos um risco nas mãos e responsabilidade com as pessoas que estão nas nossas instituições e com as pessoas que estão por vir. E eu tenho que fazer o que for possível, dentro da minha realidade”, disse.
NegociaçãoO presidente do Sindessmat defende que a entidade não abra mão da realização de uma negociação dentro dos parâmetros que já foram fechados em outros estados do país.
De acordo com Mello, a reivindicação do Sindicato dos Profissionais de Enfermagem (Sinpen), de que os salários sejam aumentados em cerca de

"Não abro mão da minha opinião de que o direito à vida é maior do que o direito de greve"
20% (o que representara um salário de R$ 1 mil) é muito alta, em relação à média do país.
Por isso, segundo ele, as instituições oferecem um aumento de 7% - passando o salário de R$ 827 para R$ 885,51 –, que é a média do que está sendo oferecida em todo o país.
“Achamos que o nosso piso é um dos maiores do Brasil e a nossa proposta de reajuste é dentro da realidade do que nós podemos pagar. Nós estamos no mês de negociação. Sair da realidade dessa forma, pedindo 20% de aumento, não dá. Detalhe que hospital nenhum recebeu nenhum reajuste dos convênios neste ano. E nós estamos desde março negociando com os convênios. Nem por isso nós paramos de atender”, afirmou.
Ao todo, há três mil estabelecimentos envolvidos na convenção coletiva em andamento, entre laboratórios, clínicas, consultórios médicos e hospitais. Apenas em Cuiabá e Várzea Grande, há 15 hospitais da rede privada que estão sendo diretamente afetados pela greve.
“Não abro mão da minha opinião de que o direito à vida é maior do que o direito de greve”, disse o presidente do Sindessmat.
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