A cada três mato-grossenses que necessitam de leitos complementares e de internação, um fica sem atendimento pelo Sistema Único de Saúde (SUS) no Estado. É o que aponta o levantamento feito pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) junto ao Cadastro Nacional de Estabelecimento de Saúde (CNES), do Ministério da Saúde, com base dos dados de julho deste ano.
O levantamento revela que Mato Grosso possui 5.379 leitos para atender a uma população estimada em 3,1 milhões de habitantes, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Destes, 1.331 estão concentrados na Capital.
O número está aquém do necessário, de acordo com o que prega a Organização Mundial de Saúde (OMS) e uma portaria publicada pelo Ministério de Saúde. Isso porque o ideal, segundos os órgãos, é que os estados tenham três leitos disponíveis para cada mil habitantes.
De acordo com a presidente do Sindicato dos Médicos de Mato Grosso (Sindimed), Elza Queiróz, Mato Grosso deveria oferecer aproximadamente nove mil leitos para atender à portaria.
"Estes números são apenas uns dos desdobramentos do subfinanciamento público no Brasil, principal responsável pelas dificuldades do SUS. "
Comparados com os dados de 2011, o Estado aumentou em 146 o número de leitos, o que foge ao comportamento nacional, que teve, nesse mesmo período, uma redução de 12.697 vagas.
Para o presidente do CFM, Roberto Luiz d’Ávila, os dados revelam o favorecimento da esfera privada em detrimento da pública na prestação da assistência à saúde.
“Estes números são apenas uns dos desdobramentos do subfinanciamento público no Brasil, principal responsável pelas dificuldades do SUS. Convocar mais médicos e oferecer menos leitos me parece uma contradição. Isso é jogar sob a responsabilidade dos médicos esse cenário de abandono do sistema público de saúde”, afirmou.
O levantamento faz parte de um acordo de cooperação técnica firmado entre o Ministério Público Federal (MPF) e o CFM para garantir acesso à saúde de qualidade da população. O documento foi entregue à procuradora-geral da República, Helenita Acioli.
A ideia é criar um grupo de trabalho para responder questionamentos sobre a suficiência da quantidade de leitos no atendimento, os reais motivos para essa redução de leitos, o custo médio para manter ativado um leito, a justificativa para a redução, entre outras questões.
Investimentos na saúde
Para a presidente do Sindimed, aumentar o número de leitos disponíveis não é o suficiente para melhorar a saúde pública em Mato Grosso, que engloba os setores primários, secundários e terciários, a população e uma “infinidade de ações e programas de saúde”.
“O que a gente vê hoje no Brasil, e não só em Mato Grosso, é que não tem nenhum setor dentro da saúde pública que a gente possa aplaudir. Hoje o que mais aparece e mostra a situação caótica é o setor de urgência e emergência, que acaba recebendo o impacto de toda a falta de investimentos na estrutura de saúde como um todo”, disse.
"O que a gente vê hoje no Brasil, e não só em Mato Grosso, é que não tem nenhum setor dentro da saúde pública que a gente possa aplaudir"
De acordo Queiróz, a saúde só é tratada com seriedade quando vista de forma responsável pelos gestores desde a atenção primária, com Postos de Saúde da Família (PSFs) e unidades básicas de atendimento que cumpram suas funções.
“Não é só quantidade, tem que ter qualidade das unidades básicas de saúde e ver a forma como elas se referenciam com as unidades secundárias e terciárias de saúde. Todo o nosso sistema de saúde está caótico e precisa ser tratado com mais respeito e compromisso”, afirmou.
Para a presidente, não há como afirmar por onde os investimentos devem ser iniciados pelos gestores.
“Tem que começar [a investir] por todos os lados. Nos prontos-socorros as pessoas estão deitadas no chão. Hoje a situação está muito caótica para falar que dá para começar por um setor para melhorar. Tem que investir em todos os setores ao mesmo tempo. Essa é a nossa realidade”, disse.
A prioridade é a Copa
Para a presidenta do Sindicato dos Servidores Públicos da Saúde e do Meio Ambiente de Mato Grosso (Sisma), Alzita Ormond, a falta de leitos está relacionada à falta de prioridade do Governo de Mato Grosso para a área da Saúde.
De acordo com ela, o governo está preocupado em concentrar os investimentos nas obras da Copa do Mundo, e nisso, deixou os setores da Saúde e Educação em terceiro plano.
"Além da falta de leitos, os hospitais estão sucateados"
Outro problema que gera o déficit de mais de 4 mil leitos é a falta de profissionais capacitados nos hospitais regionais do interior do Estado.
De acordo com Ormond, na busca pelo atendimento especializado, esses pacientes do interior vem para a Capital, o que provoca a superlotação do pronto Socorro e de outras unidades de saúde do município.
“Além da falta de leitos, os hospitais estão sucateados, com falta de insumos para os profissionais atender da melhor maneira possível os pacientes”, afirmou a presidenta do Sisma.
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