Cuiabá, Domingo, 15 de Junho de 2025
SAÚDE PÚBLICA
02.02.2014 | 09h40 Tamanho do texto A- A+

Pacientes reclamam de atendimento em UPA de Cuiabá

Prefeitura diz que caos é resultado de falta de conscientização e alta demanda externa

Tony Ribeiro/MidiaNews

População reclama de tempo de espera e superlotação em UPA da Morada do Ouro

População reclama de tempo de espera e superlotação em UPA da Morada do Ouro

LISLAINE DOS ANJOS
DA REDAÇÃO
Criada com a finalidade de facilitar o atendimento de urgência e emergência para os pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS), a Unidade de Pronto-Atendimento (UPA) da Morada do Ouro (Região Norte), em funcionamento desde junho de 2013, é alvo constante de críticas dos usuários.

Longas filas de espera, superlotação e estresse são as principais queixas já feitas por quem precisou do serviço, o que não existiria, segundo os cálculos do Ministério da Saúde e da Prefeitura de Cuiabá, se as quatro unidades previstas para o município já estivessem em funcionamento.

Previstas na Polícia Nacional de Urgência e Emergência, lançada pelo Ministério da Saúde em 2003, as UPAs de Cuiabá – cada uma de porte III, com capacidade para atender um região com até 300 mil habitantes – têm previsão de inauguração apenas em 2015.

Como a Capital possui pouco mais de 560 mil habitantes, o número seria suficiente para atender a demanda da população por mais alguns anos, sem risco de saturação. Isso, pelo menos, é o que defende o secretário-adjunto de Assistência da Secretaria Municipal de Saúde, Fernando Antônio Santos e Silva.

Tony Ribeiro/MidiaNews

Local vive cheio; Município aponta falta de conscientização da população como um dos problemas


De acordo com os dados do Ministério da Saúde, unidades do porte dessas que estão previstas para Cuiabá conseguem realizar, de forma satisfatória, até 450 atendimentos por dia.

Porém, a primeira e única unidade em funcionamento na Capital registra até 600 atendimentos por dia – dado que se agravou com o fechamento da Policlínica do Planalto no final de outubro passado para reforma, que foi destelhada após uma chuva. A unidade atendia cerca de três mil pessoas por mês e deve ser reaberta em fevereiro.

Além disso, com a abertura da UPA, o Município decidiu transformar a antiga Policlínica do CPA I em um Centro de Saúde da Família, voltando o atendimento no local para a atenção básica.

Segundo o secretário-adjunto, apesar das críticas, a unidade tem conseguido prestar o atendimento a que se propôs, auxiliando, principalmente, na diminuição do fluxo de pessoas que se voltavam para o Pronto-Socorro de Cuiabá quando precisavam de atendimento menos sério.

“Só a UPA da Morada do Ouro atende, em média, de 10 mil a 12 mil pacientes por mês. O Pronto-Socorro atende uma média de três mil. Hoje ele está fazendo o papel dele, de atender apenas os casos realmente graves”, disse.

“Chá de cadeira”

Quem passa pela UPA da Morada do Ouro em qualquer período do dia nunca vê a unidade “tranquila”.

A funcionária pública Evair Rodrigues de Almeida, 60, já precisou do serviço da UPA duas vezes, uma para o atendimento de um sobrinho e outra para si mesmo, na última semana.

Tony Ribeiro/MidiaNews

UPA Pascoal Ramos: iniciada em abril de 2012, unidade tem previsão de entrega para o final deste ano

Com pressão alta e de pulseira amarela no punho, ela aguardava ser chamada pelo médico – o que ocorreu em menos de meia hora desde sua chegada – e contou que, na primeira vez, desistiu de esperar pelo atendimento do sobrinho, após duas horas de espera.

“Cheguei às 21h e saí às 23h, sem atendimento. Tinha só um médico de plantão. Acho que a UPA ficou sobrecarregada. O atendimento aqui, muitas vezes, exige a presença de mais médicos, porque vem gente daqui e de todo o Estado com gripe, tuberculose, hanseníase, vítima de tiro e de todo o Estado. Falta conscientização. Você tem que procurar realmente numa emergência”, afirmou.

Mas o atendimento rápido não é regra. A espera em alguns casos menos graves, segundo o coordenador da unidade, Samir Katunata, chega a ser de, em média, quatro horas.

É o que ocorreu, por exemplo, com a dona de casa Simone Vieira, 33, que levou o filho de 11 meses pela segunda vez à UPA. O bebê estava gripado e com a pulseira verde no punho.

Para ela, a demora maior é sempre na recepção da unidade, para passar pelo momento de triagem e classificação de risco.

“Primeiro você passa pela enfermeira para saber se seu caso é grave. Demora demais lá na frente, para ela colocar a pulseirinha. Da outra vez, chegaram uns presos que foram atendidos primeiro, antes de atender a gente. Achei uma falta de respeito muito grande, até porque o atendimento já é péssimo. Fiquei indignada”, disse.

Segundo Simone, na primeira vez, o atendimento foi feito em 1h30. Na última quinta-feira (30), porém, ela já estava há três horas no local e reclamava da falta de funcionários.

“Hoje cheguei 7h e foram me atender para a triagem 8h. Faltam mais médicos, mais pessoas capacitadas para atender. Eram 7h e não

"Eram 7h e não tinha ninguém para atender, só uma mulher distribuindo senha. O pessoal da recepção e da triagem não estava aqui. Entregaram o plantão e não ficou ninguém"

tinha ninguém para atender, só uma mulher distribuindo senha. O pessoal da recepção e da triagem não estava aqui. Entregaram o plantão e não ficou ninguém. Então, a pessoa chega passando mal e ainda tem que pegar a senha e esperar funcionário chegar, sendo que ele já deveria estar aqui? É complicado”, reclamou.

Classificação de risco


Ao chegar à UPA, os pacientes passam pela avaliação de uma equipe de triagem, formado por enfermeiros, que são responsáveis pelo atendimento preliminar.

Na sequência, a equipe faz a classificação do paciente, por meio de pulseiras, nas zonas vermelha (emergência de atendimento imediato, com risco de morte); amarela (emergência sem risco de morte imediato); verde (atendimento menos urgente e mais ambulatorial); e azul (atendimento sem urgência, para quem quer renovar receita ou pegar um atestado, por exemplo).

“Em todo país do mundo que é desenvolvido, onde há pronto-atendimento, eles funcionam com classificação de risco, onde você classifica por cores. Os pacientes verdes e azuis, podem esperar, pelo protocolo, de seis a oito horas. Não é que a gente queira que eles esperem, mas ele pode esperar, se necessário. Isso é internacional, não foi uma invenção nossa”, explicou Silva.

Anteriormente, segundo o secretário, havia filas e o atendimento era feito por ordem de chegada, o que comprometia o atendimento imediato de um paciente que estivesse enfartando, por exemplo, e que não pode esperar.

“Por isso que, antigamente, morria muita gente na fila. Falta conscientização de boa parte da população, qual o papel da UPA e saber se comportar lá, entender que foi feita uma triagem para classificar os pacientes pela cor e que há prioridades. Tem um protocolo a ser seguido.”, afirma.

"Falta conscientização de boa parte da população, qual o papel da UPA e saber se comportar lá, entender que foi feita uma triagem para classificar os pacientes pela cor e que há prioridades"

Justificativas


O Município alega, porém, que as razões para o tumulto e as longas filas de espera no local continuam sendo fatores como falta de conscientização da população, a deficiência da cobertura de atenção básica oferecida pela própria Prefeitura de Cuiabá à população e a alta demanda de municípios do interior, que acabam sendo absorvidos pela rede municipal de saúde.

“Recebemos vans, microonibus e ambulâncias de Confresa, do sul de Rondônia, Chapada dos Guimarães, Nossa Senhora da Guia, Acorizal, Santo Antônio do Leverger, até mesmo Bolívia, Rondônia, Pará. Uma UPA atende de 250 a 450 pacientes com qualidade por dia. Hoje está chegando a 600, dependendo do dia. Daí desce 50 pessoas de um ônibus [de outra cidade] e tudo tumultua”, disse Silva.

Para o secretário-adjunto, a população precisa entender qual a real função de uma UPA e passar a se encaminhar no local apenas se seu caso realmente demandar atendimento de urgência e emergência. Do contrário, o tempo de espera continuará longo.

“Você deve procurar uma UPA para queixas agudas, coisas recentes. E o médico não fazer um acompanhamento, porque lá funciona em regime de plantão. O acompanhamento é feito na rede de atenção básica, nos centros de saúde e PSFs. Mas, boa parte da população que vai para a UPA quer acompanhamento: renovar receita, pegar atestado, tratar de uma dor que sente há meses, enfim”, justificou.

Soma-se a isso o envio de pacientes de outros municípios, que, segundo Silva, chegam à unidade pensando que se trata de um hospital comum, o caos é instalado.

“Quando eles chegam, nos temos que classificar todo mundo e atender. Mas aumenta o tempo de espera. E Cuiabá não recebe nenhum recurso só Estado para fazer isso. Quem está pagando tudo isso aí é o munícipe cuiabano”, afirmou.

Tony Ribeiro/MidiaNews

Antiga Policlínica do CPA I, transformada em Centro de Saúde após abertura de UPA

De acordo com o coordenador da UPA, com a procura correta – não por serviços ambulatoriais – e sem a demanda externa, o sofrimento da população no local iria diminuir.

“A demanda externa equivale a 20% do nosso atendimento diário, principalmente vindos de municípios da Baixada Cuiabana. Sem isso, a espera não seria tão longa”, disse.

Além disso, outro problema é que Cuiabá ainda não tem uma cobertura ideal de atenção básica, que seria um número ideal de unidades de Programa de saúde da família (PSFs), para consultas menos sérias e de acompanhamento.

Segundo dados do Município, atualmente metade da população da Capital tem um posto perto de casa e a outra metade, não.

“Hoje, temos 70 PSFs e 21 Centros de Saúde, que abrangem aproximadamente 50% da cidade. Teríamos que praticamente dobrar esse número. Se você considerar que 20% da população tem plano de saúde e 80% não – segundo dados do Ministério da Saúde – não precisaríamos dobrar, mas, ainda assim, tem que aumentar”, disse Silva.

A promessa do prefeito Mauro Mendes (PSB) é chegar até o final deste ano com 102 unidades de PSFs funcionando, com a inauguração de 15 unidades que já estão em construção e a transformação de alguns Centros de Saúde – que estão caindo em desuso – em PSFs.

De acordo com Silva, não faltam médicos na unidade, que conta com oito salas de atendimento – com quatro clínicos-gerais, dois pediatras , um médico “coringa” (que atende tanto adultos quanto crianças, dependendo da demanda) e um médico emergencista, exclusivo para atendimento de pacientes de pulseira vermelha – e um consultório odontológico com um dentista de plantão 24h.

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Policlínica do Planalto: local fechou para reforma em outubro de 2013 e deve ser reaberto este mês

“Fizemos algumas alterações para tentar melhorar a questão da assistência na UPA, porque uma UPA prevê cerca de seis médicos, mas nós deixamos, em média, de sete a oito médicos de plantão”, afirmou.

Outras UPAs


Atualmente, encontra-se em construção a UPA do Pascoal Ramos (Região Sul), que já deveria ter sido entregue junto com a UPA da Morada do Ouro, mas cuja obra ficou paralisada devido a impasses quanto à localização e gastos excessivos para terraplanagem do terreno, tendo sido retomada apenas no final do ano passado.

A obra começou a ser realizada em abril de 2012 e, agora, tem previsão de conclusão para o final deste ano.

Outras duas UPAs que ainda estão previstas para serem entregues até fevereiro de 2015 são as das regionais Leste, que será construída no início da Estrada do Moinho (Jardim Leblon), e Oeste, junto à Policlínica do Verdão, no bairro de mesmo nome.

Com a obra finalizada, a Prefeitura tem um prazo de aproximadamente 60 dias para equipar a unidade e montar a equipe que irá trabalhar no local, a fim de abrir as portas das UPAs para a população.

Segundo o secreta-adjunto de Assistência, cada UPA custa cerca de R$ 4 milhões apenas para ser construída, valor do qual R$ 2,6 milhões são repassados pelo Ministério da Saúde, e o restante é assumido pela Prefeitura.

Dessas, a única que deverá extrapolar o valor previsto é a UPA Pascoal Ramos, devido aos problemas enfrentados no início da obra.

Em todo o Estado, o Ministério da Saúde prevê a construção de 18 UPAs, dos mais variados portes.

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UPA - Pascoal Ramos

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UPA - Pascoal Ramos

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UPA - Pascoal Ramos

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Clínica da Família CPA I

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UPA - Morada do Ouro

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UPA - Morada do Ouro

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UPA - Morada do Ouro

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UPA - Morada do Ouro

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UPA - Morada do Ouro




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Sergio Arouca  02.02.14 18h19
INFELIZMENTE OS HOMENS AO CHEGAR AO PODER NÃO ESCUTAM NINGUEM. VEJA O EXEMPLO DO BLAIRO QUANDO SISMOU EM DERRUBAR O VERDAO. MUITOS DISSERAM A ELE PARA CONSTRUIR O NOVO ESTADIO PRAS BANDAS DA CHAPADA. POR ACASO ELE OUVIU? A SAUDE DE CUIABÁ ESTÁ RELACIONADA A FALTA DE PROFISSIONAIS DA SAÚDE.
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Débora  02.02.14 13h41
Gente é 2014, época da copa, contratação de mais médicos pra que? eles não precisam da UPA, acordem. Acho isso Ridículo, e por isso odeio essa merda de copa, que afinal não acrescenta nada, se eles usassem esse dinheiro q gastaram p copa em educação segurança e saúde. Poucos estariam reclamando. Governo de Merda
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Cláudio Silva  02.02.14 10h49
O problema da saúde em cuiaba e falta de mão de obra e nao falta de predio
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domicio  02.02.14 10h21
trocando em miudos. esse prefeito e sua equipe e simplesmente incapaz.qdo eu vi ele no conexao poder, primeiro nao passa seguranca no que fala. 2 arrogante.3 incapaz.
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