LISLAINE DOS ANJOS
DA REDAÇÃO
O desfile da Estação Primeira de Mangueira, na noite da última segunda-feira (11), ainda provoca polêmica entre os cuiabanos.
A escola de samba carioca, que neste ano teve como enredo “Cuiabá: Um Paraíso no Centro da América”, foi patrocinada pela Prefeitura Municipal com o montante de R$ 3,6 milhões, mediante contrato assinado no fim de 2012 com o então prefeito Chico Galindo (PTB).
Nas redes sociais, durante e após o desfile, cuiabanos se dividiam entre a emoção de ter a Cidade Verde como foco de uma grande escola do grupo especial do Carnaval carioca, enquanto outros faziam críticas a respeito das alegorias, adereços e, sobretudo, do samba-enredo cantado pela escola.

"Cuiabá prestou homenagem à Mangueira, não o contrário. Eles estavam sem dinheiro, nós os salvamos da falência e fizemos um papel ridículo", afirma ex-reitor da UFMT.
Para o médico e ex-reitor da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), Gabriel Novis Neves, 78, além de não retratar fielmente as belezas e cultura cuiabanas, o fato demonstrou o “despreparo” dos políticos que assinaram o contrato com a escola.
“Cuiabá prestou homenagem à Mangueira, não o contrário. Eles estavam sem dinheiro, nós os salvamos da falência e fizemos um papel ridículo. Temos quase 300 anos de história, de cultura para exportar. Isso foi resultado do despreparo dos inseguros homens que ocupam o poder”, afirmou.
Ele reclamou do samba-enredo da escola e da forma como a Capital foi apresentada ao resto do mundo, afirmando que a Mangueira não “vendeu” a imagem de Cuiabá.
“Cuiabá é chá-com-bolo, Adir Sodré, São Gonçalo Beira-Rio, Pacu, Rio Cuiabá, Centro Histórico... Cuiabá não é Amazônia, é Cerrado, Pantanal. Assistindo ao desfile, eu me senti humilhado, envergonhado. Estou ‘de luto’. Para mim, foi nota zero. Mas, foi decepção programada, já esperava por isso”, completou Novis Neves.
Carimbo da Rede GloboO ex-reitor da UFMT observou, de outro lado, que as críticas que acompanharam o desfile são resultado do "complexo de inferioridade" dos cuiabanos.
"Nós temos um complexo de inferioridade genético. Só somos bons se a televisão disser que sim. Só aceitamos a nossa beleza se ela vier com um carimbo da Rede Globo", criticou.
Incentivo válidoO cineasta e produtor cultural, Bruno Bini, 35, disse que achou a iniciativa do Município válida, com boas intenções, mas que o resultado deixou a desejar.

"Matematicamente falando, foi um investimento interessante e a intenção foi boa. O desfile foi bonito, mas aquilo lá não é Cuiabá", diz Bruno Bini.
Para Bini, faltou um controle maior por parte dos representantes públicos do que seria apresentado pela escola, durante o desfile na Marquês de Sapucaí, por não se tratar de uma homenagem gratuita, mas sim um serviço que foi comprado.
“Não sei como o processo se deu. Mas, existia um contrato. Não teve o acompanhamento de quem contratou, uma avaliação prévia do que iria ser passado na avenida? Ou ficou um campo em aberto, a critério da escola? Para mim, o desfile foi uma sucessão de equívocos: a cultura e a história cuiabana não foram para a avenida. Eles privilegiaram temas que são desconhecidos até para parte da população cuiabana”, disse.
O produtor cultural ressaltou ser a favor de que os órgãos públicos apoiem manifestações culturais, seja por meio de leis de incentivo fiscal ou diretamente, como foi o caso do patrocínio dado pela Prefeitura de Cuiabá à Mangueira.
Segundo Bini, o único questionamento a ser feito a respeito do desfile é o “resultado do projeto”.
“Matematicamente falando, foi um investimento interessante e a intenção foi boa. O desfile foi bonito, mas aquilo lá não é Cuiabá. Se alguém quiser conhecer Cuiabá, não vai encontrar aquilo que foi apresentado na avenida. A Prefeitura comprou uma coisa e levou outra”, completou.
Sem comentáriosPor meio da assessoria de imprensa, a Prefeitura de Cuiabá informou que, por enquanto, o prefeito Mauro Mendes (PSB) não irá fazer qualquer pronunciamento sobre o desfile da escola carioca e a polêmica sobre a homenagem a Cuiabá.