LISLAINE DOS ANJOS
DA REDAÇÃO
Progresso lento das obras e queda nos lucros. Esses dois itens refletem a realidade descrita pelos comerciantes da Avenida da FEB, em Várzea Grande, que possuem imóveis às margens da pista no sentido Várzea Grande-Cuiabá, bloqueada desde o dia 28 de agosto para a construção de trincheiras e alargamento da via, visando à implantação do novo modal de transporte coletivo, o VLT (Veículo Leve sobe Trilhos).
Em entrevista ao
MidiaNews, eles reclamaram que, até o momento, não foram procurados pela Secopa (Secretaria Extraordinária da Copa do Mundo) ou pelo Consórcio VLT Cuiabá, responsável pela execução da obra, para a realização de cadastros e orientação quanto ao que seria feito no local, como os prédios comerciais seriam afetados e qual a compensação que seria dada pelo Estado, em vista dos lucros perdidos.

"A gente entende que haverá melhorias na mobilidade urbana, mas o que preocupa é a demora e não ver equipes trabalhando"
Gerente de uma concessionária localizada no trecho com trânsito impedido, Adriano Ferrari acredita que faltou planejamento por parte do Estado e das empresas envolvidas na execução da obra.
“Faltou um estudo de impacto econômico. A gente entende que haverá melhorias na mobilidade urbana, mas o que preocupa é a demora e não ver equipes trabalhando”, afirmou.
Segundo Ferrari, houve uma reunião entre os comerciantes e membros da Secopa e do Consórcio, mas nada foi esclarecido. De acordo com o gerente, foi informado que a o bloqueio da pista duraria aproximadamente quatro meses e que, em seguida, o outro lado seria bloqueado.
“Já se foram 20 dias com a pista fechada e não há evolução nenhuma na obra, não fizeram nada, só quebraram calçada, até agora. Daí começa o período de chuvas e a obra não desanda”, reclamou.
Durante esse período de interdição, a concessionária já sentiu uma redução no fluxo de loja de 60%.
“Diminui tanto o número de clientes que poderiam comprar um carro quanto dificultou o acesso de clientes de manutenção na oficina. Afetou tanto a venda quando o cliente pós-venda”, explicou.
Thiago Bergamasco/MidiaNews
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Alessandro Biachi: acesso ao comércio pela contramão por não ter porta nos fundos da loja
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A queda nos rendimentos também foi sentida pelos comerciantes vizinhos. Se aqueles que possuem entrada pelos fundos da loja, como é o caso de Ferrari, já sentiram um grande impacto nos rendimentos, a previsão é ainda ruim para os comerciantes que não possuem outra alternativa de entrada, que não seja o acesso pela Avenida da FEB.
Alessandro Bianchi, que também possui uma loja no local, utiliza a pista já interditada, pela contramão, se quiser entrar em sua loja. Segundo ele, sem acesso à loja pelas ruas dos fundos e os clientes não gostam de parar do outro lado da avenida e atravessar as duas pistas.
“Estou subindo pela contramão da avenida. Nem essa orientação o Estado passou, eu tive que pegar com a Guarda Municipal de Várzea Grande. E o cliente quer comodidade, não quer atravessar uma avenida que não tem semáforo, não tem faixa de pedestre nem passarela”, disse.
Solução e compensaçãoPara manter os negócios funcionando, a saída encontrada pelos comerciantes é focar nas vendas por telefone e, no caso das concessionárias, manter um atendimento personalizado aos clientes, buscando os veículos que precisam de manutenção nas residências e levando os automóveis para os clientes potenciais poderem escolher sem se deslocarem até à loja.
Ferrari afirmou que, quanto à diminuição de tributos a serem cobrados pelo Estado ou outro tipo de compensação, a Secopa apenas afirmou que os casos seriam analisados individualmente pela Sefaz (Secretaria de Fazenda), mas que não acredita na redução de taxas e tarifas.
“A compensação para eles é a de que vai melhorar a mobilidade urbana. A gente entende que tem que ser feito, que vai ser muito bom, só que a demora e não ver evolução na obra nos preocupa. Como é uma avenida principal, que tem um grande número de estabelecimentos, deveriam ter três equipes trabalhando dia e noite. Na reunião com a Secopa eles disseram que não vai ter redução de impostos”, afirmou.
Thiago Bergamasco/MidiaNews
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Obras na Avenida da FEB: progresso é considerado lento pelos comerciantes da região
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Acesso complexoAlém da perda nas vendas, outro problema enfrentado pelo comércio local que possui acesso pelo bairro da Manga, em Várzea Grande, é orientar os clientes sobre como chegar à rua paralela à Avenida da FEB.
Eles reclamam que precisaram criar uma rota alternativa e desembolsar valores que somam mais de R$ 7 mil para montarem placas sinalizadoras do melhor caminho a ser feito pelos bairros Cristo Rei e Manga.
“O acesso é complexo pela rua do fundo e temos registrado muitas reclamações dos clientes”, afirmou Ferrari.
Outro ponto ressaltando pelos lojistas é que o desvio oficial montado pelo Consórcio VLT Cuiabá, que passa pela Ponte Sérgio Motta, está sendo usado pelos motoristas para irem e virem da Capital, o que fez o fluxo de veículos diminuir também na outra pista da Avenida da FEB, no sentido Cuiabá-Várzea Grande.
Esse é o caso de José Roberto, que gerencia um comércio localizado na parte da via que não está bloqueada, mas que já sentiu uma redução no número de clientes na loja e, antes que a interdição seja feita, já está montando portas nas laterais da loja, para atender a demanda após o início das obras do outro lado da avenida.
InsegurançaSegundo José Carlos, que gerencia uma concessionária de motocicletas na avenida, não houve mais diálogo com os responsáveis pela obra e a segurança no local também foi afetada, uma vez que a via fica deserta e os ônibus não estão circulando pelo local, como havia sido anunciado pela Secopa anteriormente.

"Caiu a receita e aumentou a despesa. Então, vamos cortar no quadro de funcionários"
Dessa forma, os funcionários das lojas, por exemplo, precisam percorrer um longo caminho após o expediente até o ponto mais próximo, a fim de retornarem para casa. A distância média a ser percorrida, de acordo com os lojistas, é de, no mínimo, 300 metros.
O quadro de funcionários, aliás, foi apontando como o próximo setor a sofrer mudanças, caso os comerciantes queiram se manter no local.
“Caiu a receita e aumentou a despesa. Então, vamos cortar no quadro de funcionários para manter o contrato de aluguel, pagar os impostos”, disse o gerente.
No caso das concessionárias, o problema aumenta quando o estoque é analisado. Isso porque os fornecedores já tem um compromisso com cada unidade e enviam, mensalmente, uma número de veículos para cada loja, que não pode ser alterado.
“É um estoque alto. Não temos capital de giro, os veículos e motos vão mudando de ano e de modelo e só fazem aumentar o estoque”, reclamou o gerente.
Mudança na plantaOs comerciantes afirmam que não tiveram acesso ao projeto para saber o quanto a fachada e estacionamento das lojas seriam afetadas. Quem não possui outro espaço vago a não ser em frente à loja, por exemplo, precisará criar outras alternativas para os clientes que quiserem visitar o comércio.
De acordo com Ferrari, aproximadamente seis metros serão retirados da frente de cada loja, dos dois lados da via, para alargamento da pista e tratamento do canteiro central, por onde passará o VLT.
Thiago Bergamasco/MidiaNews
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José Carlos: estoque na concessionária deve aumentar a cada mês
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Outro ladoDe acordo com a assessoria da Secopa, ficou decidido entre a pasta, o consórcio e os comerciantes que era dever dos lojistas encontrar outros meios de atrair os clientes, não sendo tarefa do Consórcio VLT Cuiabá confeccionar placas e montar um desvio exclusivo para os lojistas, se atendo a criar e sinalizar o desvio oficial a ser usado por quem precisa descer da cidade industrial em direção à Capital.
A Secopa negou ainda que não tenha realizado o cadastro dos comerciantes diretamente atingidos pelas obras da Copa, afirmando que possui o registro de todos eles e assinatura de representantes de cada unidade, o que comprovaria a notificação oficial sobre as obras.
Sobre os ônibus que não mais trafegam pelo trecho bloqueado, mudando a rota a ser feita pelos usuários de transporte coletivo e que trabalha na região, a pasta disse que apenas auxilia a Prefeitura de Várzea Grande e o Consórcio e que não possui autonomia para fazer alterações nessa rota.
Consórcio VLT Cuiabá
O Consórcio VLT Cuiabá-Várzea Grande foi procurado pelo
MidiaNews. A reportagem, no entanto, não recebeu retorno até a edição desta matéria.