O presidente da J&F, Joesley Batista, afirmou nesta sexta-feira (1º) que a decisão de rescindir a opção de compra do controle acionário da Delta foi baseada em uma série de fatores – não só pelas denúncias que envolvem a construtora.
“Nós não saímos. Nós concluímos que não queremos entrar e o por quê é pelo cenário macroeconômico, que deteriorou, pelo cenário político, que não ajudou, pelo cenário financeiro que a empresa vem passando, pela conjuntura como um todo”, afirmou Batista. Ele informou que foi constatado uma diminuição de cerca de 30% no fluxo de caixa da construtora nos últimos 30 dias.
Mais cedo, a J&F informou ter rescindido a opção de compra do controle acionário da Delta e o memorando que previa a gestão do Fundo de Investimento em Participações Sofi, controlador da Delta Construções.
Em 9 de maio, a J&F havia informado que assumiria a gestão da construtora. O contrato preliminar dava direito à holding da JBS de substituir a estrutura administrativa da Delta, incluindo presidente, diretores e membros do Conselho de Administração.
Uma auditoria na construtora havia sido anunciada, após o que seria tomada a decisão pela compra ou não da Delta. O controle da gestão da Delta não envolvia pagamento aos seus antigos controladores e o valor da empresa seria estabelecido pela auditoria.
'Absolutamente normal'O presidente do grupo que controla a JBS evitou, porém, falar em frustração ou decepção pela decisão de não levar o negócio adiante e classificou a decisão de “absolutamente normal”. “Fizemos um contrato para avaliar uma empresa e a decisão era seguir em frente ou não, como fazemos todos os dias na nossa holding”, disse.
Segundo Batista, o grupo avalia anualmente “centenas de empresas” e, de cada dez, duas ou três recebem conclusão satisfatória. “A diferença é só que a da Delta foi noticiada”, disse.
De acordo com o executivo, o grupo tinha pouca informação sobre a Delta e o funcionamento da construtora quando assumiu a gestão da empresa. “A decisão é sempre tomada depois que você se aproxima. A Delta é uma empresa que funciona num mercado promissor, é uma empresa que tem todos os seus méritos, mas o comitê nosso [da J&F], por questões várias, por uma combinação de fatores, decidiu por não dar continuidade”, afirmou.
O presidente do conselho consultivo da J&F e ex-presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, disse que, apesar da decisão de desistir da Delta, o grupo mantém o interesse em investir na área. “Continuamos olhando infraestrutura”, disse.
Em comunicado, a J&F informou que também rescindiu a opção de compra do controle acionário da Delta e rescinde também o memorando que previa a gestão do Fundo de Investimento em Participações Sofi, controlador da Delta Construções.
"O prolongamento da crise de confiança sobre a Delta tem deteriorado o cenário econômico-financeiro da construtora, gerando um fluxo financeiro negativo e alterando substancialmente as condições inicialmente verificadas", diz o comunicado. De acordo com o contrato assinado entre as empresas, diz a J&F, "a ocorrência de eventos inesperados ou adversos permite à J&F o direito de rescindir o memorando de entendimentos sem aplicação de multas ou penalidades".
DenúnciasA Delta, empreiteira líder de contratos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e sexta maior do setor no país, está envolvida em denúncias de favorecimento ao bicheiro Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, preso pela Polícia Federal na Operação Monte Carlo, acusado de chefiar um esquema de jogo ilegal.
Relatório da Polícia Federal apontou que Carlinhos Cachoeira passava informações sigilosas de licitações públicas para Claudio Dias Abreu, diretor afastado da Delta em Goiás. Áudios também apontam o envolvimento do ex-diretor da Delta Carlos Pacheco com o grupo. Fernando Cavendish, dono da construtora, foi citado em escutas, mas não conversa diretamente com Cachoeira. A PF diz que a Delta repassava dinheiro a empresas fantasmas controladas por Cachoeira.
Desde então, a empresa deixou obras nas quais participava em consórcio com outras empreiteiras e vem sofrendo pressão para abandonar empreendimentos estatais que toca sozinha. No último dia 25, a Delta divulgou um comunicado no qual a empresa assegurava que "continuará a cumprir seus contratos, obrigações e compromissos assumidos com seus fornecedores e clientes, com a habitual regularidade".