LISLAINE DOS ANJOS
DA REDAÇÃO
Mais de 500 mil correspondências estão presas nas centrais de atendimento da Grande Cuiabá e nas redes de distribuição dos municípios de Mato Grosso. A informação é do presidente do Sintect-MT (Sindicato dos Trabalhadores da Empresa de Correios e Telégrafos), Francisco da Silva Adão, que afirmou que esse é o resultado de apenas dois dias de greve dos trabalhadores dos Correios, iniciada na última quarta-feira (19).
A paralisação avança de maneira tímida pelo Estado. Dos 1.525 funcionários da ECT (Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos) em Mato Grosso – sendo 650 carteiros –, apenas 200 pararam as atividades em Cuiabá, Várzea Grande, Cáceres, Mirassol D’Oeste, Sinop, Rondonópolis e Juara. O número representa apenas 13% do total do efetivo no Estado.
Thiago Bergamasco/MidiaNews
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Carteiros querem melhores condições de trabalho e aumento salarial
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Adão está confiante, porém, de que as adesões devem aumentar de maneira significativa até a próxima semana.
Os funcionários estão posicionados em frente à agência central dos Correios, na Praça da República, em Cuiabá, e devem manter a manifestação até sexta-feira (21). Eles aguardam, ainda hoje, o posicionamento dos funcionários de Barra do Bugres e Tangará da Serra.
Caso a greve ganhe a adesão de todos no Estado, a expectativa é de que aproximadamente um milhão de correspondências deixarão de ser entregues por dia em todo o Mato Grosso, sendo 500 mil delas somente na Grande Cuiabá.
Sem acordoOntem (19), o TST (Tribunal Superior do Trabalho) determinou que 40% dos funcionários em cada agência mantenham as atividades durante todo o período de greve, sob pena da Fentect (Federação Nacional dos Trabalhadores em Empresas de Correios, Telégrafos e Similares) ser multada em R$ 50 mil por dia.
De acordo com a Federação, a maioria dos funcionários aderiu à paralisação, equivalente a 117 mil de 120 mil empregados. Ao todo, 25 dos 39 sindicatos filiados à Fentect aderiram ao movimento. Os Correios, porém, contrapõem essa informação e afirmam que apenas 9% dos trabalhadores cruzaram os braços.
Durante a audiência de conciliação realizada ontem no TST, nenhum acordo foi fechado.
Thiago Bergamasco/MidiaNews
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Em frente à agência central dos Correios, funcionários protestam
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Serviços suspensosEm função da paralisação parcial das operações de distribuição, os Correios divulgaram nota informando que estão suspensos os serviços de entrega rápida destinados à Região Metropolitana de São Paulo e aos estados de Tocantins e Distrito Federal, bem como a oferta do Disque Coleta e da Logística Reversa domiciliária nas regiões citadas.
O presidente do sindicato afirmou que as pessoas que estiverem esperando por correspondências em Mato Grosso deverão procurar as agências ou unidades de distribuição para saber se a encomenda não está retida, aguardando ser entregue.
ReivindicaçõesO presidente do sindicato afirmou que a paralisação das atividades é a única forma da categoria reivindicar pelo reajuste salarial pretendido, de 43,7%.
A categoria afirma que possui um dos piores salários das estatais. Segundo Adão, o salário inicial de um trabalhador com nível médio nos Correios é de R$ 942, o que, com o reajuste pedido, subiria para R$ 1,5 mil.
Além disso, os trabalhadores pedem a contratação de 30 mil novos funcionários. Somente em Mato Grosso seriam necessárias cerca de 500 novas contratações, segundo o presidente, a fim de diminuir a sobrecarga de trabalho e diminuir o que chamam de “assédio moral” dentro da empresa, que mede a produção de cada trabalhador.
Novas contratações, de acordo com ele, também são necessárias para atender à demanda do Estado e melhorar o serviço prestado à população. De acordo com o sindicato, mais de 150 bairros de Cuiabá e Várzea Grande, por exemplo, não são atendidos pelos carteiros por falta de efetivo. “A pessoa precisa sair de casa e ir até a agência dos Correios para verificar se há alguma correspondência e buscá-la”, disse.
Thiago Bergamasco/MidiaNews
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Agências dos Correios amanheceram com faixas de protesto na quarta-feira (19)
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Condições de trabalhoO forte calor também é faz parte da lista de reclamações da categoria, que defende a entrega de correspondência apenas no período matutino, deixando as tardes apenas para a realização de trabalhos internos, como triagem das correspondências.
Além disso, o presidente da entidade reclamou da falta de segurança aos funcionários nas agências dos Correios, que realizam alguns serviços bancários, mas não contam com portas giratórias e vigilantes em todas as unidades.
Outro ladoOs Correios afirmam que, durante a paralisação, poderão descontar dos salários dos trabalhadores que aderirem à greve os dias não trabalhados, por conta dos problemas que o ato poderá causar à sociedade.
A empresa garante ainda que tomará as medidas cabíveis para garantir o atendimento à população. No “plano de contingência” estão previstas a realocação de empregados das áreas administrativas, contratação de trabalhadores temporários, realização de horas extras e mutirões para triagem e entrega de cartas e encomendas nos finais de semana.
Em seu site, a empresa afirmou que ofereceu uma proposta de reposição integral da inflação, de 5,2%, sobre os salários e benefícios, garantindo o poder de compra. O salário-base inicial para o cargo de nível médio subiria, então, para R$991,77 e, somado ao adicional de atividade que os carteiros recebem, o vencimento subiria para R$ 1.289,30.
Os Correios destacam ainda que oferecem aos trabalhadores vale transporte, assistência médica, hospitalar e odontológica para empregados e seus dependentes (inclusive na aposentadoria) e adicionais de atividade.
A empresa afirmou que está investindo na melhoria das condições de trabalho e que, nos últimos nove anos, os trabalhadores tiveram até 138% de reajuste salarial, sendo 35% de aumento real.
Outras grevesNo ano passado, a categoria permaneceu em greve durante 28 dias. Os Correios descontaram sete dias parados dos vencimentos dos funcionários. Os demais dias parados foram compensados com trabalhos aos sábados e domingos.