Cuiabá, Segunda-Feira, 16 de Junho de 2025
CUIABÁ NA COPA
06.01.2013 | 10h51 Tamanho do texto A- A+

“Não existe um projeto de expansão e promoção do turismo”

Empresário Jaime Okamura diz que Capital não está pronta para o Mundial

Thiago Bergamasco/MidiaNews

Empresário Jaime Okamura: "Não estamos preparados para a Copa do Mundo"

Empresário Jaime Okamura: "Não estamos preparados para a Copa do Mundo"

LISLAINE DOS ANJOS
DA REDAÇÃO
Cuiabá não está pronta para sediar um evento como a Copa do Mundo e essa inexperiência pode resultar em sérios prejuízos para a cidade – em especial para o setor turístico da Capital. Essa é a opinião do empresário e ex-secretário municipal de Turismo, Jaime Okamura, que atua na Capital desde 1994.

Eleito presidente do Conselho Estadual da Confederação Nacional do Turismo, Okamura afirmou, em entrevista ao MidiaNews, que os gestores focaram seus esforços em obras de infraestrutura para sediar o evento mundial, mas se esqueceram de que é necessário fomentar o turismo na região e qualificar a mão-de-obra existente no mercado.

“Não estamos preparados. Porque não se trata apenas de realizar obras de infraestrutura. A população precisa mudar, os conceitos precisam ser reavaliados. O foco do turismo não é só obra de mobilidade urbana, reforma de aeroporto e obras de acessibilidade. É todo um conceito, formado por variáveis que vão de infraestrutura viária a comunicação”, ressaltou.

Confira abaixo os principais trechos da entrevista:


"Não estamos preparados. Porque não se trata apenas de realizar obras de infraestrutura. A população precisa mudar, os conceitos precisam ser reavaliados"

MidiaNews – Cuiabá é uma cidade turística? Há atrativos? Ou é apenas um polo de recepção e distribuição dos turistas para as cidades como Chapada dos Guimarães, Nobres, Poconé?


Jaime Okamura – Cuiabá, como várias outras capitais, é apenas uma entrada para as belezas naturais. Há uma dificuldade pelo fato do ecoturismo não ser parte da nossa cultura. A cultura nossa, hoje, é mais voltada a ir para as praias, para o litoral. Não há foco na natureza, no ecoturismo, na questão ambiental. É uma consciência que ainda está se formando. Em Cuiabá, mesmo, mais de 50% das pessoas não conhecem Chapada dos Guimarães. Prefere ir para o litoral, para o Nordeste, mas nunca foi à Chapada, ao Pantanal e não conhece os atrativos que existem no Estado. Então, hoje Cuiabá é muito mais um polo emissivo do que receptivo. Mandamos muito mais turistas para fora do que recebemos. Com as facilidades de transportes e pacotes turísticos, nos tornamos até foco para vários destinos turísticos, como o Nordeste, por exemplo. As empresas vêm aqui e oferecem pacotes turísticos, divulgam a cidade e levam o cuiabano, o mato-grossense, para o litoral.

MidiaNews – Mas a Capital tem potencial para ser foco do turismo?

Okamura –
Cuiabá, por si só, é polo de atração pela questão do turismo interno. O pessoal vem para cá atrás dos serviços que a cidade presta, e por aqui ser o centro do poder político. Então, ela tem garantida essa movimentação. Mas Cuiabá tem potencial turístico, porque é uma das únicas capitais que tem, em um raio de 100 km, as belezas naturais. Não é um produto, mas tem um potencial. Inexplorado, infelizmente, porque não há um foco. A nossa maior tendência hoje é a na área de turismo de negócios e eventos. Com a realização da Copa do Mundo, nós estamos perdendo uma grande oportunidade. Porque é chamada de “Copa do Pantanal” e, lamentavelmente, pouco proveito nós vamos ter em cima desse marketing.

MidiaNews – Trazer a Copa do Mundo para cá, então, é desperdiçar uma grande oportunidade, devido à falta de infraestrutura?


Okamura –
Hoje, o turista que vem para participar de questões ambientais, fazer ecoturismo, tem uma estadia máxima de cinco dias. Ele não permanece aqui mais do que isso. E hoje nós não temos um pacote específico nem para atender a todo esse tempo. Um estudo elaborado pela Universidade Federal de Mato Grosso por solicitação da Secopa [Secretaria Extraordinária da Copa do Mundo] diz que a permanência do turista durante a Copa será de quatro dias. Um dia para chegar, um dia para assistir o jogo, um dia para lazer e no outro dia, retorno. Nesse caso específico da Copa, imaginava-se, logo que o Brasil foi escolhido como sede do Mundial de 2014, que o perfil do turista seria diferente, em função da distância e do longo tempo que essas pessoas teriam que ficar ausentes de suas cidades. Pensaram que viriam famílias, aproveitando o período de férias, para conhecer o Brasil. Porém, o perfil das pessoas que vão à Copa não é esse. São pessoas de 19 a 40 anos e, destes, de 80% a 90% são homens. Qual a finalidade deles? Assistir aos jogos, não fazer ecoturismo. O lazer deles é focado no que a cidade-sede oferece. Então, eu digo que a máxima do nosso setor para essa área esportiva, é dormir, comer e dormir. Ou seja, são voltados para a área de hotelaria, alimentação, lazer e divertimento. Passeios não entram muito especificamente.

Thiago Bergamasco/MidiaNews

"Turista não vai vir para ver o Pantanal, mas para assistir os jogos da Copa"

MidiaNews – Nesse caso, qual seria o legado da Copa para o setor do turismo?

Okamura –
Nós estivemos na África [do Sul] logo depois da Copa [de 2010] para ver qual era o legado que tanto dizem que a Copa traz. A surpresa foi grande. Dos pacotes turísticos oferecidos durante o Mundial, apenas 25% deles foram comercializados. Apenas após o fim da Copa é que houve uma movimentação maior, devido à grande exposição do país na mídia.

Midianews – Qual a preocupação do setor hoje, quando se fala em Copa do Mundo?

Okamura -
A grande preocupação do nosso setor, hoje, é quais são os times que irão vir à cidade. Isso vai ser determinante para o setor do turismo. Porque os visitantes não virão para conhecer o Estado ou para visitar o Pantanal. Eles virão para assistir os jogos. O que fazer no período pós-Copa também é uma preocupação. A hotelaria deve duplicar os leitos até 2014, uma média de 12 mil leitos. Mas o perfil desses turistas é diferente. Por serem homens jovens, eles não procuram hotéis mais caros ou de categoria. Isso, é claro, dependendo dos times que vierem. A concentração dos turistas durante a Copa será no litoral e no sudeste. As cidades mais prejudicadas, principalmente pela distância, serão Cuiabá e Manaus.

MidiaNews – Falta um plano de desenvolvimento do turismo no Estado, para além da Copa do Mundo? Como você avalia o plano atual de turismo no Estado e na Capital?

Okamura –
Não existe um projeto, um plano de expansão e promoção do turismo, tanto em nível estadual como municipal. Não há um estímulo. Para mim, não existe nenhuma política específica voltada ao desenvolvimento do setor do turismo. O que existe são ações pontuais que, por questões burocráticas, acabam sendo perdidas, vão se arrastando e não se resolvem. Por exemplo, Barão de Melgaço. Foi feito um asfalto ligando Cuiabá a Barão de Melgaço, mas não foi feito um trabalho de política de desenvolvimento do turismo na região. Muito pelo contrário. O turismo lá continua a mesma coisa e o que já existia, inclusive, até parou. A mesma coisa agora, que ligaram a região de Manso a Bom Jardim. Se não resolver a abertura dos atrativos turísticos, por exemplo, não vai resolver nada.

"Não existe um projeto, um plano de expansão e promoção do turismo, tanto a nível estadual como municipal"

MidiaNews – Então, em sua opinião, o que o Governo deveria fazer?

Okamura – 
Tem duas ações que o Governo deveria fazer. Além de levar a infraestrutura, ele tem que promover o destino, fazer uma exposição maior. Porque a gente não vende o turismo no Estado. Os materiais existentes são insuficientes, sites defasados, materiais apenas em português, o que, em um mundo globalizado, não temos uma mínima ferramenta funcionando, que é a comunicação. Então, uma das principais coisas que faltam é a informação, a comunicação, a exposição do Estado. O governo diz que não vai divulgar porque a cidade ou o Estado não está preparado. Mas aí ninguém vai investir se não houver divulgação. Isso se torna um ciclo. Então, falta desenvolver os planos estadual e municipal de desenvolvimento do turismo e melhorar o entrosamento entre os setores públicos e privados.

MidiaNews – Isso nunca foi discutido com os empresários do setor?

Okamura –
As coisas acontecem de cima para baixo. Então, não há um diálogo entre o setor empresarial e o poder público. Tanto o governo estadual quanto o municipal vêm pecando terrivelmente quanto a isso. Não há uma visão ampla de que o turismo seria um dos setores a serem desenvolvidos em Mato Grosso e que haveria um retorno muito grande economicamente. Um exemplo é a construção da Arena Pantanal para a Copa do Mundo. Construir é fácil, mas quem é que vai manter? Depois da Copa, ela pode ser usada como centro de convenções, pode ser palco de grandes espetáculos, pode ser usada para feiras e exposições, mas nada foi definido ainda. Nem para isso o setor é consultado. Por exemplo, se for para a Arena ser usada como um centro de convenções, já teríamos que ter um planejamento de captação de eventos para 2014. Porque a captação de eventos em nível nacional tem que ser feita de três a quatro anos antes. Se for evento internacional, tem que ser de 10 a 20 anos antes. Então, se ela for usada para sediar eventos, nós já estamos atrasados. A mesma coisa acontece com o Fan Park. Qual vai ser a utilidade desse espaço depois da Copa? Qual o custo de manutenção disso depois? Na África, por exemplo, duas cidades implodiram seus estádios porque o custo de manutenção era muito alto.

"Não há um diálogo entre o setor empresarial e o poder público. Tanto o governo estadual quanto o municipal vêm pecando terrivelmente quanto a isso"

MidiaNews – Qual a importância do turismo, hoje, na economia do Estado?

Okamura –
Há uma confusão muito grande com relação ao turismo, por falta de conhecimento. Fala-se muito que o turismo é uma indústria chaminé, que fomenta a economia. Mas, lamentavelmente, não há dados estatísticos que comprovem toda essa movimentação que o setor traz, tanto em Mato Grosso, quanto no Brasil. Há uma carência muito grande de estatísticas e informações. Única coisa confiável que existe é o número de embarque e desembarque nos aeroportos, que não representam o nível de turismo no local. Por exemplo, passaram pelo Aeroporto Marechal Rondon 2,5 milhões de pessoas. Mas como você pode separar dentre estes passageiros quem é morador daqui, quem não é, quem viajou mais de três vezes no ano? Não há um controle, um cadastro, nada que diga isso. Em nível de hotéis, bares e restaurantes, apenas aqueles que são cadastrados na Embratur ou no Ministério do Turismo fazem algum controle e são muito poucos, não representam nada. Então, se for seguir o Cadastro Nacional do Turismo, Cuiabá tem 150 bares, restaurantes e pizzarias. Não chegam a 100 os hotéis registrados. Então você não nenhum indicador econômico, que aponte quanto empregos o setor gera, nada.

Thiago Bergamasco/MidiaNews

"Não dá para fundir as secretarias de Cultura e Turismo. É um equívoco"

MidiaNews – Você acredita que ainda há tempo de montar um plano para fomentar o turismo na Capital, com vistas ao Mundial?

Okamura –
Eu acho que em pouco tempo, você não muda conceito. Ainda mais agora com a administração municipal querendo fundir as pastas de Turismo e Cultura, acredito que esse conceito deve permanecer como está e vamos deixar passar uma grande oportunidade, principalmente para o setor do turismo, que se tornaria uma grande fonte de renda. Não se faz conscientização a menos de um ano e meio. Tínhamos esperança que esse conceito fosse mudado a partir da gestão atual. Então, Cuiabá e Várzea Grande continuam apáticas, como se o evento não fosse acontecer aqui.

MidiaNews – Na sua visão, então, a Capital não está preparada para receber um grande evento?

Okamura –
Não estamos preparados. Porque não se trata apenas de realizar obras de infraestrutura. A população precisa mudar, os conceitos precisam ser reavaliados. O foco do turismo não é só obra de mobilidade urbana, reforma de aeroporto, obras de acessibilidade. É todo um conceito, formado por variáveis que vão de infraestrutura viária, rodoviária, fluvial, ferroviária a comunicação. Você imagine Cuiabá, no primeiro dia de jogo, com 70 mil pessoas a mais, que é o público esperado, sendo que destes são 15 mil turistas estrangeiros. Nós vamos estar preparados para receber esse público? E a questão da segurança pública? É um grande evento, estaremos na mídia. E se tiver um atentado? E se alguém de fora for preso? Existe uma delegacia capacitada para receber essa pessoa? Ela vai ficar presa onde? No Carumbé? No Pascoal Ramos? Imagine usar o celular em Cuiabá, durante os jogos? E a saúde pública? Se acontecer alguma coisa, vai colocar todo mundo onde? No Pronto-Socorro de Cuiabá? E a questão do abastecimento? A Secopa possui um levantamento que diz que se a Copa fosse hoje, Cuiabá estaria com um problema de desabastecimento de alimentos de 40%. Nós dependemos, no ramo de hortifrutigranjeiro, de 90% do que vem de fora. Os nossos fornecedores são Paraná, São Paulo, que também estarão sediando, ou seja.... A pesquisa diz que teremos problemas e que a única coisa que não irá faltar na cidade é água mineral. Vamos ter problemas de acomodação, também, que não será suficiente. Existem medidas alternativas, como é o programa de cama e café, quando você pode hospedar alguém na sua casa, no seu apartamento. Mas a população não está preparada para isso, não faz parte da nossa cultura. Então você tem que informar a população, qualificar as pessoas. Os próprios empresários, por exemplo, não estão informados a respeito da Lei Geral da Copa, que serve para defesa exclusivamente dos interesses da FIFA [Federação Internacional de Futebol]. O que pode ou não pode? Se você usar a logomarca da Copa, do mascote, por exemplo, sem autorização, sem pagar os direitos para a Fifa, você pode ser preso, pode pagar multa. Em volta da Arena, em um raio de cinco quilômetros, durante a Copa, será jurisdição da FIFA. Se você entrar com uma bebida ou uma camiseta que não seja do patrocinador oficial, você não entra no estádio. Os bares e restaurantes ao redor do estádio terão que cobrir a marca de outras bebidas e não podem transmitir os jogos sem pagar os direitos à FIFA e à detentora da transmissão, que nesse caso é a Rede Globo.

"A Secopa possui um levantamento que diz que se a Copa fosse hoje, Cuiabá estaria com um problema de desabastecimento de alimentos de 40%"

MidiaNews – Podemos deduzir que a qualificação dos profissionais para atuar na Copa, então, está aquém do necessário?

Okamura –
Está. Primeiro, porque a gente tem alertado para que foquem os programas de qualificação em quem já está no mercado. Porque não dá mais tempo de preparar mão-de-obra para jogar no mercado. E a partir deste ano deve vir para Cuiabá muita gente de fora, de cidades que não vão sediar o evento e que está desempregado, mas que possui experiência e qualificação para atuar na Copa do Mundo. Outro problema que teremos é a língua estrangeira, que vai nos causar um problema muito sério de comunicação. No país, quase ninguém é bilíngue. E não dá pra “dar um jeitinho”. Porque um país que quer crescer em torno do turismo, passar por um evento importante, não dá pra ficar dessa maneira. A estrutura toda do país, com exceção de grandes centros como Rio de Janeiro e São Paulo, está do mesmo jeito, não há uma política de turismo, não existe ainda uma cultura da importância do turismo. Das doze sedes, apenas aquelas que vão participar da Copa das Confederações é que estão preparadas. O restante, ainda está gatinhando.

MidiaNews – E o Pantanal, que é mostrado como nosso principal atrativo. Também não está sendo preparado para isso?

Okamura –
Nem mesmo um estudo de impacto do turismo foi feito, nem para o Pantanal, nem para Chapada dos Guimarães, para lugar nenhum. Imagine colocar cinco mil pessoas passando por dia na Transpantaneira, o que não vai virar lá? Lá é o nosso maior foco. Imagine colocar 100 ônibus circulando pela Transpantaneira, que não tem acostamento, nada. Não temos dimensões dos tamanhos das pousadas e hotéis, quantos leitos estão disponíveis, como será processado o lixo produzido nessas hospedagens ou o que é ecologicamente correto fazer dentro do Pantanal. Então, a nossa preocupação não é mais de infraestrutura, mas sim de que não existe um estudo que diz quantas pessoas podem ir para lá por dia, quanto carros podem passar pela região.

MidiaNews – Recentemente, em uma entrevista, você disse outras cidades, como Campo Grande (MS), poderiam se beneficiar mais do que a gente com o turismo na Copa. Você mantém essa opinião?

Okamura –
Nós já estamos perdendo, porque eles estão vendendo pacotes turísticos da Copa do Pantanal. O pacote inclui trazer os turistas para assistir aos jogos em Cuiabá e voltar. Desde que perderam a Copa para cá, que eles não precisam construir estádios e outras obras, eles decidiram investir na cidade. Eles se prepararam. Aqui, nós temos potencial, mas não temos produto, porque não há um foco. Falar que aqui tem cachoeiras, tem paredões, não adianta. Em outros lugares também podem encontrar isso. No caso de Chapada, por exemplo, deveriam focar na questão mística, na renovação de energias, que é um atrativo na região. Espalham tudo: tem trilha, ecoturismo, cachoeira, rio. Outro exemplo é, quando querem vender o Pantanal, colocam uma onça no folder e entregam para o turista. Mas ele não vai ver isso lá tão facilmente. É propaganda enganosa.

"Esse evento poderá ser duas coisas para a gente: vitrine para novas oportunidades, ou uma vidraça"

MidiaNews – Então, o que podemos esperar para o setor com a Copa do Mundo em Cuiabá?

Okamura –
É o que eu sempre digo. A Copa é da FIFA, mas quem é que vai receber esse pessoal e poderá ganhar os elogios? Não é o Governo do Estado, é a cidade. Esse evento poderá ser duas coisas para a gente: vitrine para novas oportunidades, ou uma vidraça. Para ser uma vitrine, nós precisamos agir. Porque, pelo andar da carruagem... Boa parte da população não sabe de nada, ninguém tem ideia de como tudo irá funcionar. Tem centenas de itens exigidos pela FIFA que já deveriam estar sendo fomentados e grande parte deles depende da população, como fazer a coleta seletiva do lixo, hospitalidade, pintura e manutenção da sua fachada, embelezamento da cidade com jardinagem, limpeza da sua calçada. O comércio também tem que estar preparado para atender esses visitantes, saber sobre a moeda que será utilizada. Ou seja, esse pessoal está sendo instruído, treinado, informado? São algumas coisas que eu acho que ajudariam no processo das próprias obras que estão sendo feitas. Os prazos para conclusão das obras estão aí e nós temos que acreditar que elas vão ficar prontas. Porque deixar a cidade toda revirada da maneira como está, não tem como. Porque aí nós vamos pagar mico e tudo isso vai atingir, direta ou indiretamente, o turismo. A dívida vai ficar. Quem vai pagar a conta?

MidiaNews – Seu nome foi cogitado para assumir a Secretaria Municipal de Turismo. Houve conversas com o prefeito Mauro Mendes (PSB) nesse sentido?

Okamura –
Não. Eu acredito que já dei a minha contribuição como secretário. E o turismo, enquanto não for visto como política de governo, como uma questão de planejamento, você vai “chover no molhado”. Porque hoje a Secretaria Municipal deveria ser vista como uma pasta de fomento e planejamento, não operacional. Porque o setor é composto exclusivamente de empresário e cabe ao poder público criar as oportunidades.

Thiago Bergamasco/MidiaNews

Jaime Okamura: escolha de Mendes por Marcus Fabrício foi política, não técnica

MidiaNews – Agora, com a mudança de toda a gestão municipal e a entrada do Marcus Fabrício (PTB) na pasta de Turismo, você acredita que poderá ter alguma mudança para melhor? O que você achou da escolha desse nome para a secretaria?

Okamura –
Eu acredito que essa foi uma escolha política e não uma escolha técnica, como o prefeito disse que faria. Nesse momento, se o Marcus Fabrício tiver o apoio total do prefeito, pode desenvolver alguma coisa. Mas se for apenas para usar as pastas de turismo e cultura como um produto, a situação vai continuar na mesma. Se houver a fusão dessas duas secretarias e não houver direcionamento, planejamento, e a pasta não for vista como uma pasta de fomento, não vai adiantar nada. Porque esse setor não anda sozinho. Ele depende de planejamento com todos os setores: limpeza urbana, comunicação, segurança, saúde, educação.

MidiaNews – Como você avalia a possibilidade de fusão das secretarias municipais de Turismo e Cultura, avaliada pelo gestor atual?

Okamura –
São pensamentos totalmente equivocados. Porque turismo é ligado à questão econômica, geradora de renda. Cultura necessita de incentivos, é a manutenção das manifestações culturais e pode ser um produto do turismo, mas precisa ser preparada para isso.

MidiaNews – O setor cultural já se manifestou contra essa ideia. Porque o setor turístico não reagiu da mesma forma?

Okamura –
O setor do turismo, por ser iminentemente empresarial, está muito vinculado aos governos Estadual e Municipal, não é independente. E, quando o mercado está bom, os empresários se acomodam. Para o setor de hotelaria, por exemplo, o mercado está ótimo, com taxas de ocupação de 60% a 70%, o que, em nível de Brasil, é uma taxa altíssima. Então, se para o setor o mercado está bom, para que ele vai ficar cutucando um ou outro? E nem todos tem espírito de luta, tem essa noção de classe.

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24 Comentário(s).

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Fanize Albuês  06.02.13 17h08
Fanize Albuês, seu comentário foi vetado por conter expressões agressivas, ofensas e/ou denúncias sem provas
Joao Moreira  21.01.13 00h19
Poxa juro como cidadão, cuiabano, trabalhador, apaixonado por Cuiabá, por MT, por tudo que temos de mais belo, não entender o porque de uma entrevista com críticas nessa altura do campeonato! Não duvidamos da capacidade do senhor Okamura, pois o mesmo é empresário, consultor, já esteve atuante no Turismo (estadual e municipal), faz parte do Conventions Bureau, e por conhecer os dois lados da moeda porque não foi atuante enquanto esteve no lado Político do tripé? Pois mais do que nunca já vimos com exemplos como da Alemanha, Japão, EUA, que com planejamento fica um legado, algo que pode gerar mais dividendos pós-copa, e o mesmo por ser parte da Iniciativa Privada, ter sido parte do Poder Público, e ser cidadão (Comunidade) deveria saber os atalhos... E não simplesmente querer bater agora! Inoportunas respostas!
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Eduardo Moreira Lustosa  09.01.13 20h21
Parabéns pela lucidez, Jaime! Vc está certíssimo.
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Eleuzair Cunha Neves  09.01.13 11h42
Belíssima entrevista do Sr. Okamura. Fez um retrato fiel não só para Cuiabá, como para quase todas as cidades-sede. As cidades se tornaram um verdadeiro “canteiro de obras”. Por exemplo, em Curitiba ainda não é uma cidade que respira futebol, apesar de a cidade ser bem estruturada com seu meio de transporte coletivo, hotéis e restaurantes, etc., mas está longe de estar preparada para o mundial. O nosso aeroporto tem sérios problemas. Ninguém sabe quando ficará pronta nem quanto vai custar à obra de ampliação do terminal do Aeroporto Internacional Afonso Pena, na zona metropolitana de Curitiba (PR). O que já é certo, porém, é que apenas 30% dos trabalhos estarão concluídos até o início da Copa do Mundo de 2014, quando os turistas chegarem à Curitiba, encontrarão um aeroporto em obras. Sem falar no principal, O Estádio. Este ainda engatinha na sua reforma. Como veem, com a proximidade da Copa das Confederações, os problemas vão se multiplicando país afora.
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Altayr  08.01.13 20h39
Concordo em genero, numero e grau com o Jaime, trabalho no ramo turístico desde 1994, e nunca se fomenta o turismo em nosso estado, estou no Manso desde 2001, lá tem acesso que consta na malha rodoviária como asfaltada e o asfalto nunca chegou ate lá, isto é um puro despreparo dos governantes, pois sem foment, sem incentivo não há turismo!!
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