Cuiabá, Segunda-Feira, 16 de Junho de 2025
A UM ANO DA COPA
09.06.2013 | 10h09 Tamanho do texto A- A+

“Não há dúvidas de que Cuiabá estará pronta para o Mundial”

Para o secretário Maurício Guimarães, falta mobilização da sociedade

Mary Juruna/MidiaNews

Para o secretário Maurício Guimarães, o maior desafio do Estado é fazer a sociedade acreditar no evento

Para o secretário Maurício Guimarães, o maior desafio do Estado é fazer a sociedade acreditar no evento

LISLAINE DOS ANJOS
DA REDAÇÃO

No próximo dia 12 de junho, o Brasil dará início à contagem regressiva para a realização de um dos maiores eventos do planeta: a Copa de Mundo. A apenas um ano para o Mundial de futebol, a população da Grande Cuiabá se vê “encurralada” entre grandes canteiros de obras nunca antes executadas no Estado e descrente de que tudo estará pronto a tempo.

À frente desse desafio e sendo cada vez mais pressionado pela população, que quer resultados concretos de todos os projetos em andamento, o secretário Extraordinário da Copa do Mundo (Secopa), Maurício Guimarães, se mantém otimista e confiante de que Cuiabá poderá se destacar entre as 12 cidades-sedes do evento no país.

Em entrevista exclusiva ao MidiaNews, Guimarães fez um panorama geral dos projetos e desafios que a Capital precisará enfrentar nos próximos 365 dias, reafirmou a entrega de todas as obras de mobilidade e travessia urbana antes da realização do Mundial e ressaltou que o maior obstáculo – e foco do Estado – a partir de agora será mobilizar a sociedade a acreditar no sucesso do evento.

"Acho que falta a sociedade se mobilizar e ir às ruas. Falta orgulho"

“Acho que falta a sociedade se mobilizar e ir às ruas. Falta orgulho. [...] O mundo inteiro estará olhando para Cuiabá, enquanto o Brasil ainda olha para nós com certo descrédito. Esse é o nosso maior desafio agora. Quero que todos nos ajudem a gritar que nós estamos aqui, que vamos ser a melhor sede da melhor Copa do Mundo já realizada nos últimos anos”, disse.

 

Confira a seguir trechos da entrevista concedida por Guimarães ao MidiaNews:

MidiaNews – O secretário-geral da Fifa, Jérôme Valcke já anunciou, diversas vezes, que as cidades-sedes que não entregarem as obras necessárias até dezembro deste ano podem não mais sediar o Mundial de Futebol em 2014. Cuiabá corre o risco de ser cortada por atraso em alguma obra?

Maurício Guimarães – Absolutamente não. As obras que são essenciais para o evento, que são aquelas sem as quais não existe a Copa, como a Arena Pantanal, o Fifa Fan Park e os COTs (Centros Oficiais de Treinamento) estão totalmente garantidas para serem concluídas até o final deste ano. As demais obras, de mobilidade urbana – exceto o VLT, que tem um prazo contratual para o início de 2014 – também serão entregues. Cuiabá vai estar pronta, não só do ponto de vista das obras essenciais, mas também do ponto de vista das obras que estão sendo executadas a partir do evento e que ficarão como legado para a cidade.

MidiaNews – Foi ressaltado pelo senhor, durante reunião com o Tribunal Regional do Trabalho e os sindicatos dos trabalhadores da construção civil, que há um déficit de mais de dois mil trabalhadores nos canteiros de obras da Copa do Mundo em Cuiabá. Onde esse déficit é maior?

Guimarães – Hoje nós temos vagas para 2,5 mil operários. Hoje o VLT demanda 1,5 funcionários; a Arena Pantanal, 500 operários, e as obras que estão começando, como a Arquimedes Pereira Lima, 220 funcionários. Temos déficit de mais 50 funcionários na trincheira da Jurumirim e faltam mais 50 operários nas obras das trincheiras do Verdão e Santa Rosa. Isso só para citar algumas das obras. Então, o conjunto dá em torno de 2,5 mil trabalhadores.

"A falta de mão-de-obra é uma preocupação sim, mas não é motivo para que tenhamos alguma obra não entregue"

MidiaNews – Isso impacta no cumprimento do cronograma das obras?

 

Guimarães – Não. Porque as empresas hoje também já estão buscando outros meios de solucionar o problema. Com o término de algumas obras em algumas cidades da Copa do Mundo, começamos a ter uma oferta maior de mão-de-obra no mercado e podemos trazer esses operários para Cuiabá. A falta de mão-de-obra é uma preocupação sim, mas não é motivo para que tenhamos alguma obra não entregue.

MidiaNews – Como isso está sendo resolvido junto as órgãos fiscalizadores, como a Superintendência Regional do Trabalho (SRTE) e o Ministério Público do Trabalho?

Guimarães – Em tese, a Secopa não teria porque intervir nisso. Simplesmente você cobra das empresas o cronograma e elas têm que criar condições de cumprir esse cronograma. Mas nós ficamos preocupados em função de um contexto e de uma situação real de que não temos mão-de-obra local. Isso é fato. Quando você importa essa mão-de-obra, você traz trabalhadores de diversas regiões do país que vem para cá para ganhar dinheiro. Isso significa fazer horas extras. Ainda que o aumento do piso salarial atraia mais gente, o operário que vem de fora vai continuar querendo fazer duas horas extras a mais, porque é a oportunidade que ele tem de ganhar um pouco mais de dinheiro e voltar para a sua casa, para a sua região, com mais recursos e até mais rápido. Então, isso cria certo desconforto em toda a logística de mão-de-obra. Porque não temos mão-de-obra local, isso é fato. Há essas limitações das horas extras e os órgãos competentes explicam que quanto mais o trabalhador estende sua jornada de trabalho, mais vulnerável ele fica à ocorrência de acidentes. As estatísticas de acidentes de trabalho comprovam e isso deve ser levado em consideração. Em reunião com os órgãos, nós decidimos que discutiremos caso a caso, canteiro por canteiro e fase por fase das obras. Isso é um avanço já e vai nos propiciar a ampliação dessas horas extras em fases específicas, onde temos uma continuidade de serviços ou que não permite mudar de turno sem que uma etapa da obra esteja concluída, ou em obras que estiverem com o cronograma apertado e restar comprovado a falta de mão-de-obra local.

Mary Juruna/MidiaNews

"No final de julho nós começamos as inaugurações"

MidiaNews – E as inaugurações das obras a partir do próximo mês estão confirmadas?

Guimarães – Sim. No final de julho nós começamos as inaugurações. Hoje nós já temos algumas obras concluídas que já estão sendo utilizadas, como a Avenida Juliano Costa Marques e a ponte do Jardim das Palmeiras, onde estão apenas refazendo as calçadas. Outra obra que está pronta é a Avenida Camboriú, que já está sendo utilizada também. Mas nós vamos começar a entregá-las publicamente para a população a partir de uma grande inauguração que será realizada no Viaduto do Despraiado, no final do próximo mês. No final de julho também já vamos estar com a trincheira da Ciríaco Cândia e as marginais do Verdão prontas. Então, teremos uma sequência de entregas a partir desse mês, com os viadutos da Sefaz, MT-040, UFMT, Dom Orlando Chaves, do aeroporto.

MidiaNews – No caso dessas obras de arte do VLT, a previsão é de que elas sejam disponibilizadas para uso apenas com o modal ou a população poderá usá-las antes?

Guimarães – As obras do VLT não são exclusivas do modal. Elas foram incorporadas ao VLT, mas são obras da mobilidade urbana. Elas serão inauguradas e entregues para uso. O viaduto da Sefaz, por exemplo, está ali não por causa do VLT, mas porque ali tem um grande congestionamento. O viaduto da UFMT, também, não é uma obra que está sendo feita por causa do VLT, porque o modal poderia passar em nível. Mas é porque ali gerava um conflito muito grande do ponto de vista de sistema viário. Então, essas 12 obras que foram incorporadas ao pacote do VLT, então elas vão ser entregues para uso da sociedade antes do modal. Quando o modal estiver pronto, ele irá passar pela faixa central. As pistas marginais, destinadas aos carros, estarão funcionando antes do modal. 

MidiaNews – O terceiro turno está sendo realmente adotado nas obras? Em quais? Há uma fiscalização da Secopa quanto ao cumprimento dessa jornada de trabalho?

Guimarães – Essa questão do terceiro turno é relativa. Nós estamos cobrando o cumprimento do cronograma, que para serem cumpridos, necessitam do turno adicional para dar prosseguimento a algumas frentes. Nos finais de semana, quem passar pela Estrada da Guarita, pela Avenida Arquimedes Pereira Lima, na Rodovia Mário Andreazza, verá que há pessoas trabalhando. Na trincheira do Santa Rosa, também há pessoas trabalhando à noite e aos sábados. O VLT, por exemplo, já possui oito frentes de trabalho à noite. Então, o terceiro noturno está sendo adotado, mas de acordo com as fases das obras, não de forma sequencial, sai de um turno entra no outro. Se o cronograma prevê que determina fase necessita de terceiro turno, estaremos lá acompanhando. Agora, inclusive, nós já estamos com câmeras instaladas nos canteiros de obras e acompanhamos todas as fases, inclusive pelo celular. Então, há um monitoramento constante, diário.

Mary Juruna/MidiaNews

"Hoje nós temos 2,5 mil vagas nos canteiros de obras"

VLT

MidiaNews – Há um temor da sociedade, desde que o Governo do Estado optou pela implantação do Veículo Leve sobre Trilhos (VLT), de que a obra não será concluída a tempo para a realização do Mundial. A partir do momento em que autoridades, como o senador Blairo Maggi (PR), afirmam que o modal não será concluído, a angústia da sociedade aumenta. O senhor reafirma que essa obra tem condições de ser realizada a tempo?

Guimarães – A Secopa nunca escondeu de ninguém que essa obra seria um grande desafio – e continua sendo. Mas nós temos um contrato que vem sendo acompanhado diariamente e este acompanhamento ainda não deu indícios de que essa obra possa não ser concluída a tempo. Então, a Secopa, enquanto contratante de um consórcio que tem como responsabilidade a entrega da obra antes do Mundial de 2014, tem reuniões constantes com o consórcio no gabinete do governador. Isso é rotina. O governador acompanha todas as obras e se reúne com todas as empresas, até porque ele tem muita responsabilidade e participação efetiva em tudo isso. É algo legítimo e normal esse acompanhamento. Isso é rotina e não temos sinais que possam nos levar a dizer que não será entregue. A obra ainda está dentro do cronograma e nós vamos continuar a afirmar e exigir o cumprimento do contrato, que diz que ela será concluída no dia 13 de março de 2014. O cronograma mostra que isso é possível, até porque as obras mais complexas do pacote, que são as obras de arte, já estão em execução. Além disso, o grande gargalo de todo sistema ferroviário é o material rodante. E nós temos três fábricas da Espanha trabalhando para a construção do nosso material rodante.

MidiaNews – Houve greve de trabalhadores na Espanha, o que fez com que algumas fases de teste tivessem seus dias alterados. Isso afetou o cronograma?

Guimarães – De jeito nenhum. Já estão em fabricação na Espanha mais de quinze vagões, dos 40 previstos. E os dois primeiros chegam à Cuiabá em agosto deste ano, conforme o cronograma divulgado. A greve geral da Espanha foi de apenas um dia e não afetou em nada o cronograma dos trens, que até mesmo está adiantado quanto ao que foi previsto no processo licitatório. E quando o plano e a fase de testes é toda aprovada, o projeto entra em uma linha de montagem, de produção em escala, e o ritmo é muito mais rápido.

"A falta de mão-de-obra é uma preocupação sim, mas não é motivo para que tenhamos alguma obra não entregue"

MidiaNews – E quanto aos trilhos, secretário? Como está a fabricação e quando eles serão entregues na Capital?

 

Guimarães – Os trilhos já estão sendo fabricados na Polônia e os demais componentes que fazem parte do material rodante – que seguram o trem aos trilhos e permitem a mudança de estação e de direção – estão sendo montados na Alemanha e na França. São 120 km de trilhos, no total, que serão implantados nos 22 km de trajeto do VLT. Isso porque há o trajeto de ida e volta de cada eixo e tudo isso é somado. Apenas no Centro de Comando e Controle, 15 km de trilhos serão instalados. E os 120 km de trilhos serão entregues de uma só vez, em um navio só. Antes do final de julho, eles já chegam ao Brasil.

MidiaNews – E os terminais do VLT, secretário? O projeto prevê a construção de 32 terminais e quatro estações, mas nem todas essas obras foram iniciadas. Elas demandam muito tempo, como as obras de arte?

Guimarães – As mais complexas delas já foram iniciadas, mas a população às vezes não vê porque estão sendo executadas dentro do aeroporto. Hoje, as maiores obra dentre estas são o Centro de Manutenção, o Centro de Operações e o Terminal de Integração do VLT em Várzea Grande, que já estão com as fases de terraplanagem e fundação concluídas e estão se encaminhando para a execução da infraestrutura. O ritmo dessas três está acelerado. Temos também o Terminal do Coxipó, que será construído na área da antiga Petrobrás, que já assumimos, bem como a área do Terminal do CPA. Não são obras simples, mas são feitas de materiais pré-moldados que tem uma execução mais administrável dentro de toda a logística. Dentro dos próximos 40 dias as pessoas já começarão a ver as obras dos terminais sendo executadas.

"Antes, você ia à Arena e ficava angustiado. Hoje, você vai e vê que as coisas estão acontecendo"

Arena Pantanal

MidiaNews – A Arena Pantanal foi a primeira obra a ser iniciada e será uma das últimas a serem concluídas. O ritmo está satisfatório?

Guimarães – Hoje está. A Arena Pantanal já foi motivo de muita preocupação, mas hoje, não mais, principalmente depois que foi feito o distrato com a empresa Santa Bárbara, que estava com problema de convivência com a Mendes Júnior. Depois do distrato, a Arena ganhou outro ritmo. Antes, você ia à Arena e ficava angustiado. Hoje, você vai e vê que as coisas estão acontecendo, que a Arena está tomando forma, que já espaços prontos ou quase prontos. Então, podemos ter orgulho dessa obra.

MidiaNews – Qual o percentual da obra da Arena atualmente?

Guimarães – Hoje estamos com aproximadamente 70% dos trabalhos concluídos.

MidiaNews – Nós sabemos que a Arena Pantanal não se resume à construção do estádio, mas também à obras que deverão ser realizadas no entorno do Complexo Multiuso. Como está o andamento dessas obras hoje?

Guimarães – Nós temos três entornos da Arena. O primeiro entorno é a área edificada da Arena, de pouco mais de 40 mil m²; o segundo, que é uma área de 1,5 km da Arena; e o entorno que vai até cerca de 4 km da Arena. Nesse último se enquadram as obras do Córrego Oito de Abril, a ponte do rio Cuiabá e as obras da Estrada da Guarita. Dentro da área a 1,5 km da Arena, será feito o redesenho ou uma preparação desse entorno. Essas obras já estão sendo executadas e se tratam do recapeamento de todas as ruas do Jardim Cuiabá, asfaltamento de algumas ruas que não completavam a ligação do Jardim Cuiabá e o Córrego Oito de Abril e obras de adequação das calçadas para torná-las acessíveis às pessoas com mobilidade reduzida. Já o Complexo da Arena, que se trata da área edificada citada, já está com todo o trabalho de terraplanagem sendo feito e a edificação do restaurante já está pronta. Ali também estão sendo feitos o estacionamento e a área verde. Creio que dentro dos próximos dez dias, toda a parte de revolvimento de terra estará concluído e começaremos a concretar o entorno da Arena. Vamos entregar tudo junto para a Fifa. Diferente do Maracanã e do Mané Garrincha, por exemplo, que terminaram os estádios, mas não concluíram o entorno ainda. Tudo estará caminhando em conjunto. Teremos a Arena pronta em outubro e todo o entorno, no raio de 4 km, também prontos até dezembro. Só não estará concluído ainda em outubro deste ano questões como sinalizações verticais e horizontais e a pintura no entorno, que serão realizadas em meados de janeiro e fevereiro, mais próximo do evento, porque se fizermos tudo isso agora, quando chegarmos na Copa não teremos mais nada. Infelizmente, não temos ainda essa cultura de conservar muito essas coisas.

"Posso dizer que, até hoje, nunca vi um elefante branco [Arena Pantanal] ser tão interessante"

MidiaNews – E como está o andamento da colocação da cobertura e da colocação do gramado no estádio?

 

Guimarães – Hoje temos os grandes pórticos que farão a sustentação da cobertura da Arena já montados e dois guindastes trabalhando no local. As coberturas já começaram a ser montadas no chão e dentro dos próximos dez dias já começaremos a trabalhar na montagem da cobertura. No início de julho, os guindastes sairão de dentro do estádio e serão posicionados do lado de fora da Arena, para fazer a colocação da cobertura. Com a saída dos guindastes do interior da obra, começaremos a colocar o gramado.

MidiaNews – Hoje a principal preocupação da sociedade é de que a Arena se torne um grande “elefante branco”. Sites nacionais, por exemplo, sempre ressaltam que Cuiabá não tem grandes times de futebol e que a população não tem a cultura de ir aos estádios. A resposta do Estado é sempre de que a Arena é multiuso. Mas o governo já está analisando como será colocado em prática esse conceito para uso e ocupação da Arena Pantanal?

Guimarães – Temos que olhar a Arena sob dois aspectos: primeiro, como um patrimônio público, uma obra física; e segundo, a capacidade que a Arena tem de ser a indutora de uma região. Enquanto patrimônio físico, que o Governo do Estado está investindo R$ 520 milhões no total daquela obra, nós vamos fazer uma concessão pública. Então, o concessionário poderá usar o local para a construção de um shopping, de um centro de eventos ou de prestação de serviços, além do local oferecer também uma praça para eventos em geral, não especificamente para a realização de shows. E eu posso lhe dizer que, até hoje, nunca vi um elefante branco ser tão interessante. Porque se todo elefante branco tiver a procura que o nosso está tendo de interessados em administrar, acho que deveríamos construir muitos outros no Brasil. Há uma demanda extrema de ofertas de uso para a Arena e nós estamos terminando o projeto para abrir a licitação. Mas posso afiançar a população de que esse processo licitatório terá uma grande concorrência, por se tratar de um patrimônio comercial extremamente atrativo, além de transformar o perfil de uma região. Dependendo da concessão, ela vai fazer com aquela região atraia futuros investidores para construção de torres residenciais e de negócios, por exemplo.

Mary Juruna/MidiaNews

"Há uma demanda extrema de ofertas de uso para a Arena"

MidiaNews – O vencedor desse processo licitatório assume a gestão da Arena quando?

Guimarães – Apenas depois da realização da Copa do Mundo, porque durante o evento a gestão é da Fifa. Mas a concessão será feita antes do Mundial. 

Plano de Mobilidade Urbana

MidiaNews – O Plano de Mobilidade Urbana, que diz como a cidade irá funcionar durante a Copa do Mundo, já está pronto. Em linhas gerais, de que ele trata?

Guimarães – Nós temos o funcionamento da cidade durante os 32 dias de evento, porque nós temos o Fifa Fan Fest aberto durante todos esses dias, e nós temos uma logística especial para os quatro dias de jogos. Nesse último caso, estamos falando de uma garantia de mobilidade nas rotas protocolares, que são as que fazem as ligações aeroporto-hotéis e hotéis-Arena, no caso do público em geral, e aquelas usadas pelas seleções, que são as que fazem as ligações hotel-aeroporto, hotel-COT, hotel-Arena. Todas essas rotas já estão definidas e estão sendo trabalhadas para ganharem sinalizações horizontais e verticais específicas, um tratamento diferenciado e precisam estar fechadas nos dias de jogos. Tudo isso já está pronto, planejado e aprovado pela Fifa. Agora, entramos na fase de execução desse plano. Só dentro deste plano de mobilidade, por exemplo, nós temos que construir um estacionamento estratégico para as delegações internacionais e da Fifa, que será onde hoje funciona o atual campo de futebol da Escola Estadual Liceu Cuiabano. Então, nós vamos entrar ali, desmanchar todo aquele campo, transformar em um grande estacionamento e, depois da Copa, devolver aquela área para a escola. O plano ainda envolve todo um esquema de segurança, que está sendo feito pela Sesp, tem a parte de saúde, a formação do voluntariado – que estará auxiliando desde a orientação do trânsito até recebendo e informando as delegações e os visitantes. Nós criamos uma câmara temática de Mobilidade Urbana, que é liderada pela Prefeitura de Cuiabá, que está já fazendo as primeiras ações para implantação desse plano.

MidiaNews – E quando é que a população começará a ser informada das alterações que esse plano prevê? Onde as pessoas podem buscar essa informação?

Guimarães – O plano foi feito do ponto de vista técnico, dos especialistas e aprovado pela Fifa. Agora nós vamos começar a implantá-lo, e a primeira fase para que isso aconteça é a partir da socialização do plano, do compartilhamento. Para que cada um saiba onde e quando ele será impactado. Até porque tem ações que dependem totalmente da sociedade. Por exemplo, se você estiver inserido dentro de uma rota protocolar, por onde o mundo vai passar, você terá a oportunidade para melhorar a fachada do seu comércio, de renovar a pintura da sua casa, porque ele estará visível ao Mundo. E essas informações passarão a ser compartilhadas com a sociedade dentro de aproximadamente 30 dias, logo após a Copa das Confederações, para que ela possa ter conhecimento e saiba de que forma ela poderá participar desse plano e como ela será impactada com o evento.

"Nem todo mundo vai poder sair de casa em dia de jogo na arena, caso more no entorno"

MidiaNews – Quais são os principais impactos causados à população?

 

Guimarães – Depois da Copa das Confederações, nós iremos começar a viver e sentir a Copa do Mundo e saber por onde vamos poder passar durante o evento, como funcionará o entorno da Arena, que tipo de comércio eu terei por ali e se terei que fechá-lo em dias de jogos. Um exemplo é que nem todo mundo vai poder sair de casa em dia de jogo na arena, caso more no entorno da Arena. Elas não ficarão proibidas de sair de casa, mas não vão conseguir trafegar com o veículo nesse raio que envolve o entorno da arena, por uma questão de segurança. Isso está aprovado na Lei Geral da Copa Nacional, Estadual e Municipal. Nesse entorno, por exemplo, teremos uso dos caminhões que farão o Centro de Comando e Controle. E isso vai começar a ser discutido agora para que não criássemos expectativas desnecessárias. Até hoje, nós vivemos as obras, agora nós vamos começar a viver o evento.

MidiaNews – Como será a segurança da cidade e na Arena Pantanal durante os dias de jogos? Será função do Estado ou da Fifa?

Guimarães – Quando falamos de Brasil como sede da Copa, existe uma questão de segurança nacional. Esse é o primeiro nível de segurança, que é coordenado pela Secretaria Nacional de Grandes Eventos. Então, há uma estratégia de segurança da Nação. Abaixo disso, temos a segurança em nível de Estado, e em nível municipal, e tudo isso é feito em conjunto, dentro do Plano de Mobilidade Urbana. Agora, dentro da Arena, a segurança é totalmente da Fifa e o Governo de Mato Grosso não tem gestão. No período que vai de 15 dias antes do início do Mundial até 15 dias depois, a Arena e parte do entorno dela se torna um território internacional gerido pela Fifa e eu não posso ter ninguém fardado lá dentro. Teremos uma cerca, um alambrado, em volta da Arena e das vilas de hospitalidade da Fifa, a aproximadamente 50 metros de distância, que irá delimitar esse território. Fora desse alambrado, a segurança é de competência da Polícia Federal e do Governo do Estado. Esse é o modelo de segurança que será aplicado no evento. Dentro da Arena haverá uma estrutura de segurança nacional, mas o governo do Estado terá um Centro de Comando e Controle com autoridades necessárias e investidas de poder para tomar decisões e que estará em contato com o Centro de Comando e Controle montado fora da Arena.

MidiaNews – Serão realizados testes desses modelos de segurança previstos no Plano de Mobilidade Urbana e na Arena Pantanal?

Guimarães – Sim. Nós teremos aqui, no mínimo, três eventos de testes, que serão um jogo da Seleção Brasileira, um jogo do campeonato brasileiro de futebol e um grande show, para que a gente possa apresentar à sociedade o Complexo Multiesportivo e possamos também nos testar quanto à segurança em grandes eventos, como a segurança da Arena, se a evacuação da Arena está dentro do tempo limite previsto, enfim, tudo que está previsto no Plano de Mobilidade Urbana será testado. Porque o que acontece hoje é que seis arenas serão testadas durante a Copa das Confederações. Como nós não iremos participar desse evento, nós temos que fazer testes efetivos. A Fifa exige um grande evento teste, mas nós faremos três porque precisamos ter certeza do que estaremos entregando.

"As pessoas ainda estão um pouco desacreditadas da Copa do Mundo"

 

MidiaNews – E esses três eventos testes já estão agendados?

Guimarães – Todos estão confirmados, mas alguns ainda precisamos ajustar as datas. Mas é certeza de que todos eles serão realizados e serão sem custo para quem for à Arena.

Pontos vulneráveis

MidiaNews – Pelo o que a Secopa tem acompanhado, a procura por cursos de qualificação voltados para a Copa do Mundo está sendo grande?

Guimarães – Não. Nós temos conseguido capacitar, mas ainda precisamos conscientizar mais a sociedade da importância dessa qualificação, da sua participação no evento. Nós poderíamos ter mais interesse da sociedade em participar desse processo. Mas isso tem uma razão de ser. As pessoas ainda estão um pouco desacreditadas da Copa do Mundo. Agora que nós vamos entrar na contagem regressiva para a realização do evento, as pessoas começam a acordar para o fato de que nós somos uma cidade-sede. Acreditamos que elas irão recuperar sua autoestima e que buscarão ainda mais ingressar no processo e se prepararem para o Mundial.

MidiaNews – A Secopa já fechou parcerias com algumas entidades para suprir a falta de leitos existente hoje no setor hoteleiro da Capital, que não seria suficiente para subir a demanda de visitantes durante a Copa do Mundo. Essas ações, apenas, são suficientes?

Guimarães – Hospedagem sempre foi uma grande preocupação para nós porque, mesmo com o número de hotéis que estão sendo construídos, eles não serão suficientes. Mas isso é normal em um evento concentrado. Não teríamos como ter leito para 44 mil pessoas [mínimo de visitantes previstos], porque isso seria um risco para depois da Copa. Nós tivemos sim um crescimento de leitos porque há estudos que comprovam que Cuiabá está um processo de crescimento e que continuará assim por algum tempo, mas ainda não são suficientes. Então, nós buscamos meios alternativos para hospedar essas pessoas, como os programas de Cama & Café, hospedagem solidária e iniciativas, como de uma empresa britânica que está vindo para criar um modelo de disponibilização e gerenciamento de leitos para o evento. E essas ações nos dão um pouco mais de tranquilidade de que as pessoas irão vir para Cuiabá e não ficarão sem ter onde ficar. Mas nós queremos mais do que isso. Como teremos uma Copa do Mundo descentralizada, com as seleções jogando em vários lugares e os visitantes sempre acompanham as suas seleções, essas pessoas terão que ficar sediadas em algum lugar e nós queremos que seja aqui. Não queremos que elas fiquem hospedadas em São Paulo, venham à Cuiabá para assistir um jogo e voltem para lá. Queremos que elas fiquem sediadas aqui, acompanhem os jogos em outros locais e voltem para cá. Por isso nós estamos fazendo um grande trabalho, principalmente com essas organizações internacionais, como o Lyons e o Rotary, para trazer esses visitantes para Cuiabá. Até porque, da Europa para o Brasil, via Bolívia, é muito mais perto ficar em Cuiabá do que em São Paulo, por exemplo. Já estamos com projeto de parceria com o consulado brasileiro e as agências de turismo em La Paz, para que as pessoas possam entrar no Brasil por Cuiabá. Tudo isso é um trabalho que está sendo feito.

Mary Juruna/MidiaNews

"Hospedagem sempre foi uma grande preocupação para nós"

MidiaNews – Estudos apontam que Mato Grosso terá problemas de suprimento durante o Mundial, por ser dependente de Centrais de Abastecimento (Ceasas) de outros estados, que também estarão sediando a Copa do Mundo. Isso já foi resolvido?

Guimarães – Isso é um problema um pouco mais complexo. Há vulnerabilidade, porque Mato Grosso é um grande importador de produtos do setor hortifrutigranjeiro, onde os estudos apontam que haverá mais impacto. Existem alternativas e trabalhos sendo feitos com as Ceasas de outras cidades do país, até com a construção da nossa própria Central, mas não há garantias de que ele estará pronto e que irá suprir a demanda. Nós temos conversado muito com os hotéis e com os restaurantes, para que cada um, dentro de sua logística, possa adotar mecanismos para evitar a falta de suprimentos.

MidiaNews – Dentro de todo o pacote Copa do Mundo, nós podemos dizer que a falta de suprimentos é a nossa maior vulnerabilidade?

Guimarães – Eu acho que a nossa maior vulnerabilidade está nas ações que devem ser feitas para consolidar o nosso legado, porque o resto já está sendo discutido. Não adianta eu ter suprimentos e hospedagem suficientes para todo mundo, se eu não demonstrar para elas que eu estou orgulhoso de tê-las na minha cidade, que aqui as pessoas são hospitaleiras e ordeiras. Os pontos vulneráveis concentrados, quando há envolvimento da sociedade, são superados. Mas isso só é possível se as pessoas incorporarem esse sentimento de estarem inseridas em um evento transformador. Então, acho que precisamos agora fazer um grande levante na sociedade, para as pessoas se orgulharem de estarem fazendo parte do maior evento do mundo, de buscar nos colocarmos como a melhor sede dentre as doze cidades escolhidas, para que possamos, efetivamente, colocar Cuiabá e Mato Grosso, no mapa do mundo. Acho que isso será a cereja do bolo e o nosso maior desafio nesse um ano que falta para a realização do Mundial. Quando nós conseguirmos fazer isso com a sociedade, colocar todo mundo de volta na rua como ocorreu quando fomos escolhidos, resolveríamos todas as nossas vulnerabilidades.

 

MidiaNews – Então, o senhor acredita que falta orgulho da população?

Guimarães – Falta. Mas isso tem razão de ser, também. Nós fomos para a rua, nós comemoramos e aí a sociedade parou, olhou e se perguntou: o que esse povo está fazendo? Nada acontecia. Por isso hoje as pessoas não acreditam. Não estou aqui fazendo juízo de valor de A, B ou C que era responsável no momento. Isso é um problema histórico do poder público no Brasil. Quando as coisas começaram a sair do papel, a sociedade começou a se perguntar: será que eles vão dar conta? Hoje, não. A sociedade acha que até não pode terminar para o evento, mas que uma hora ou outra, para a cidade, vão ter que terminar. Agora, a sociedade incorporar que tem que se unir para terminar as obras e fazer o melhor evento que já foi feito no mundo, é outra situação. E eu acho que é isso que precisa ser feito nessa contagem regressiva de um ano para a Copa. Como gestor, acho que falta a sociedade se mobilizar e ir às ruas. E é isso que vai garantir o sucesso do evento.

Mary Juruna/MidiaNews

'Nós vamos viver e respirar o evento Copa do Mundo"

MidiaNews – Esse será o foco da Secopa a partir de agora? Como isso será feito?

Guimarães – Sim, totalmente. Nós vamos viver e respirar o evento Copa do Mundo. Começamos com a caminhada marcada para o dia 16, que será uma manhã de grande festa, de todo mundo indo para as ruas e identificar a forma de como ele pode contribuir. Veja o exemplo simples de como a sociedade pode contribuir: não deixando ter dengue. Tudo o que estamos fazendo será um fracasso se tivermos uma epidemia de dengue na Copa. Então, só isso que cada um fizer ele estará contribuindo para o sucesso do maior evento que esse Estado já teve. Há outras formas simples de contribuir, como pintando a sua casa, colocando uma bandeira do Brasil, indo para as ruas e fiscalizando as obras, não jogando lixo nas ruas e nas obras. Então, esse é o momento e forma da sociedade contribuir conosco. Agora, nós vamos precisar mais do que nunca da ajuda de toda a população. Porque as obras nós fazemos sozinhos, mas o evento, não.

MidiaNews – Além da caminhada, o que mais será feito?

Guimarães – Nós vamos fazer uma agenda propositiva. Vamos fazer o Festival de Chapada dos Guimarães todo em verde e amarelo, logo depois da Copa das Confederações. A tradicional Feijoada de Inverno, de Fernando Baracat, também será toda em verde e amarelo. Depois do dia 30, com a final da Copa das Confederações, o Brasil vai respirar Copa do Mundo e nós podemos mostrar para todos quem somos. O mundo inteiro estará olhando para Cuiabá, quando o Brasil ainda olha para nós com certo descrédito. Por que é que nós não vamos encher o nosso peito de orgulho e dizer: ‘eu não sou só o maior produtor de grãos do mundo, eu sou também capital de um estado de pessoas que sabem fazer um grande evento, que têm orgulho, que têm culinária, que têm cultura e que sabem mostrar tudo isso’? Esse é o nosso maior desafio agora. Não é as obras terminarem, ou os riscos de hospedagem e suprimentos. Porque quando nós nos vestirmos de verde e amarelo, estaremos coroando o que já está sendo executado. Quero que todos nos ajudem a gritar que nós estamos aqui, que vamos ser a melhor sede da melhor copa já realizada nos últimos anos.

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Fernando Oliveira  16.06.13 12h53
Eu me lembro muito bem na época das últimas eleições municipais, que o prefeito Mauro Mendes disse que "iria asfaltar TODAS AS RUAS DOS BAIRROS DE CUIABÁ", só disse neh? Até pouco tempo e ainda pode ser visto pela cidade, a única coisa que ele tem feito em relação a isso é colocar placas com os dizeres "poeira zero". É muito fácil mesmo dizer que não tem poeira em locais já asfaltados, isso me força a fazer a seguinte pergunta: Por que estas placas não foram colocadas por exemplo no bairro São Francisco ou Renascer? Será que é pelo fato de nestas regiões a poeira ser quase uma tempestade de areia??? Talvez; o fato é que o Bairro São Francisco desde a sua criação a décadas, já foi asfaltado e recapiado diversas vezes; só na planta da prefeitura neh porque naquela região asfalto só para os ônibus mesmo e olhe lá... A grana do asfalto foi pra algum lugar, só sei que no asfalto do bairro é que não está...
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jose  15.06.13 21h09
jose, seu comentário foi vetado por conter expressões agressivas, ofensas e/ou denúncias sem provas
Gean  13.06.13 22h47
Obras que não conseguem acabar, nem desvios sabem fazer e manter transitáveis, 1 e 2 turno quase ninguém, imagina o tal do 3 turno, tem de ter competência, seriedade, vontade de fazer a diferença e tirar a cidade destes caos que se encontra, menos propaganda enganosa e muito mais trabalho!!
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willian Cruz  13.06.13 13h08
Acreditamos em Mato Grosso, só não acreditamos nos políticos e secretários que temos. Estamos com vergonha sim, pois a cidade está sendo destruídos pelos senhores. Realmente deveríamos ir para rua e pedir investigação do montante que já foram desviados. E a Saúde, vai bem?
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daniel  13.06.13 12h24
Concordo quando diz que falta motivação da sociedade, pois o governo mesmo com tantas irregularidade, e ainda diz "è um errinho", ai estes que estão no primeiro escalão do governo vem dizer que falta motivação da sociedade, realmente falta, pra irmos as ruas cobrar do governo mais severidade na escolha de sua equipe, o governo esta preocupado com que????? ta tudo certo, a copa será realizado em Cuiabá, mesmo faltando "VLT", uma coluna de qualquer viaduto, mesmo assim a copa será realizada, vamo vamo Brasil, a nação é maior do que os políticos, e também maior dos que abafam, existe peculato no Brasil??? isso é mentira ou ""calunia"", o Brasil é uma nação de homens e mulheres, que sobressaem à lei!!!! isso é o Brasil.
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