LISLAINE DOS ANJOS
DA REDAÇÃO
O Grupo de Atuação Especial Contra o Crime Organizado (Gaeco), do Ministério Público Estadual, trabalha com suspeita de que o auditor público externo do Tribunal de Contas do Estado, Hermes Dall'Agnol, pode ter cobrado propina de outras câmaras municipais em Mato Grosso.
O promotor Arnaldo Justino, que conduziu a operação que prendeu Hermes em flagrante, na terça-feira (18), por cobrar propina da Câmara de Jaciara (147 km ao Sul de Cuiabá), acredita que essa não é a primeira vez que o auditor estaria praticando o crime de concussão.
Ele leva em conta o
modus operandi do acusado - a maneira como ele orientou o presidente do Legislativo, vereador Adilson Costa França (PR), a desviar o dinheiro.
“Ele, inclusive, instruiu a Câmara a fazer o dinheiro passar por notas de assessoria e consultoria. E parece que já tem prática em fazer isso. O Gaeco vai aprofundar a investigação em relação a outros casos, em outros municípios também”, disse Justino.
O promotor não descarta, também, a participação de outras pessoas no esquema de cobrança de propina e pretende aprofundar as investigações, em conjunto com a Delegacia de Polícia Fazendária.

"É claro que ele vai ter direito à ampla defesa e contraditório, mas se essas provas se repetirem em Juízo, a condenação é certa"
“O Gaeco, em conjunto com a Defaz, aprofundará as investigações para confirmar se há o envolvimento de outras pessoas. Não descartamos essa possibilidade. Vamos fazer algumas diligências em conjunto e, no momento, o delegado Rogério Modelli está fazendo o flagrante delito para concluir o inquérito”, afirmou.
Modelli terá dez dias para concluir o inquérito e, segundo o promotor, outras pessoas ainda poderão ser ouvidas, nos próximos dias.
A operaçãoDuas semanas. Esse foi o tempo gasto pelo Gaeco, desde o momento em que recebeu a denúncia do presidente da Câmara de Jaciara até a prisão em flagrante do auditor Hermes Dall’Agnol, do TCE.
O auditor é acusado do crime de concussão (extorsão praticada por servidor público).
Segundo o promotor Arnaldo Justino da Silva, Hermes começou a ligar para funcionários da Câmara há, pelo menos, três meses, insinuando a existência de problemas no relatório do Legislativo de Jaciara.
“Entre os meses de junho e julho, ele coletou alguns documentos e fez algumas insinuações em relação a empenhos de pagamento de licenças-prêmio. Ele falou para funcionários: ‘A Câmara Municipal de Jaciara nunca teve contas reprovadas, né? Mas, sempre tem a primeira vez’”.
Arnaldo Justino afirmou, em entrevista ao
MidiaNews, que a cobrança de propina foi intensificada há cerca de duas semanas.

"O Gaeco filmou e fotografou o Hermes pegando a caixa, tudo"
Na ocasião, uma segunda pessoa que não quis se identificar passou a exigir valores, por telefone, da contadora Vera Alice e do coordenador administrativo José Roberto, ambos funcionários da Câmara de Jaciara, que ontem (19) prestaramm depoimento ao delegado Rogério Modelli, da Defaz (Delegacia Fazendária de Cuiabá).
“Na verdade, o total da propina seria de R$ 80 mil. Seriam R$ 40 mil para essa pessoa e R$ 40 mil para o auditor”, afirmou o promotor.
Pressionado, o vereador o vereador Adilson Costa França (PR), que preside o Legislativo do muicípio, solicitou a intervenção do Gaeco, que o orientou a dar continuidade às instruções recebidas para o pagamento da propina, que era de enviar R$ 20 mil, em uma caixa endereçada a Hermes, via ônibus, que ele iria buscar pessoalmente na Rodoviária de Cuiabá.
“O presidente nos avisou e o mandamos seguir as instruções, que nós iríamos fazer o flagrante. O dinheiro veio pelo ônibus da empresa Andorinha e foi levado para o setor de cargas da empresa, como se fosse uma encomenda comum. E aí, o Gaeco filmou e fotografou o Hermes pegando a caixa, tudo”, contou.
“Não é preparar o flagrante, é um flagrante esperado. Não induzimos ninguém a praticar o crime, apenas acompanhamos, porque eles que tomaram a iniciativa de exigir o dinheiro, o pagamento. Então ,falamos pra ele: estão exigindo? Então, manda, que nós vamos pegá-lo”, explicou o promotor.
Flagrante

"A única coisa que ele falou quando ele me viu foi: 'Pelo amor de Deus, eu vou perder meu emprego'"
Justino da Silva contou que a carga chegou na Rodoviária por volta de meio-dia e foi levada ao setor de cargas da empresa, onde Hermes apareceu, sozinho, para buscar a encomenda, por volta das 14h. Cerca de cinco policiais participaram da operação, monitorando o local, sem chamar a atenção.
“Quem buscou a caixa foi o Hermes, sozinho. Quando dei o flagrante, eu garanti a ele o direito de permanecer calado, que é um direito constitucional. Falei que ele poderia ligar para um advogado, para alguém e que o que ele falasse poderia ser usado contra ele no tribunal. Ele fez uso do direito. A única coisa que ele falou quando ele me viu foi: 'Pelo amor de Deus, eu vou perder meu emprego'", relatou.
O auditor permaneceu calado, também, durante todo o interrogatório conduzido pelo delegado Rogério Modelli, na Defaz, segundo o promotor. Para Justino, as provas produzidas antes e durante o flagrante já são suficientes para comprovar a culpabilidade do auditor.
“O Gaeco tem provas suficientes. Se essas informações permanecerem dessa forma, inalteradas, não há dúvidas para condená-lo. É claro que ele vai ter direito à ampla defesa e contraditório. Mas, se essas provas se repetirem em Juízo, a condenação é certa”, declarou.
Caso condenado, ao servidor poderá ser imposta a pena de 2 a 8 anos de reclusão, além de perda da função pública.
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