Cuiabá, Segunda-Feira, 16 de Junho de 2025
SUSPEITA DE DESVIO
03.03.2013 | 18h00 Tamanho do texto A- A+

R$ 21 milhões do MT Saúde desapareceram, diz TCE

Empresa contratada teria embolsado dinheiro em vez de pagar a rede credenciada

Reprodução

Contratação irregular causou rombo de R$ 21 milhões no MT Saúde

Contratação irregular causou rombo de R$ 21 milhões no MT Saúde

LAÍSE LUCATELLI
DA REDAÇÃO
A empresa Saúde Samaritano Administradora de Benefícios (SSAB) teria recebido R$ 21,3 milhões indevidamente, durante o período em que foi contratada pelo MT Saúde para administrar o plano de saúde dos servidores do Estado.

O apontamento foi feito em um relatório de auditoria produzido pelo Tribunal de Contas do Estado (TCE), atendendo a uma representação do Ministério Público Estadual (MPE). O MidiaNews teve acesso a uma cópia do estudo.

O contrato entre o MT Saúde e a SSAB, que vigorou entre setembro de 2011 e março de 2012, previa que a empresa cobraria as mensalidades dos usuários e receberia a contrapartida do órgão.

A SSAB, então, seria responsável por gerenciar todos esses recursos e pagar a rede credenciada, cabendo ao MT Saúde fiscalizar o serviço.

No entanto, de acordo com a auditoria, as evidências apontam que a empresa não cumpriu o contrato e não repassou o dinheiro para os médicos e hospitais.

Durante o período do contrato, a empresa recebeu três pagamentos que somam R$ 21,3 milhões. As notas fiscais foram emitidas nos valores de R$ 2,8 milhões, R$ 9,3 milhões e R$ R$ 9,2 milhões, com a breve descrição “prestação de serviços médicos hospitalares junto a rede credenciada ao MT Saúde” (veja as notas ao final da matéria).

A auditoria ressaltou que não foram disponibilizados relatórios com discriminação dos serviços executados, nem comprovantes de que a SSAB tenha feitos os pagamentos devidos à rede credenciada.

Além disso, o Sindicato dos Estabelecimentos de Serviços de Saúde do Estado de Mato Grosso (Sindessmat) cobrou do MT Saúde os pagamentos dos serviços prestados, e o órgão reconheceu dívida de R$ 43,8 milhões, referente a procedimentos realizados de 1º de julho de 2011 a 31 de março de 2012.

“Como cabia à SSAB pagar a rede credenciada durante o período de vigência do seu contrato, se a empresa tivesse cumprido com tal obrigação, não caberia agora ao MT Saúde reconhecer dívida desse mesmo período. Portanto, uma vez que o presidente do MT Saúde reconheceu tal dívida, também reconheceu, consequentemente, que o contrato 006/2011 foi descumprido”, diz trecho do relatório.

Desse modo, como o Estado pagou R$ 21,3 milhões à SSAB, e reconheceu dívida de R$ 43,8 milhões com os médicos e hospitais referente ao mesmo período – dos quais R$ 11,2 milhões já haviam sido efetivamente pagos na época que a auditoria foi feita, em maio de 2012 –, o Estado teria pagado duas vezes pelo mesmo serviço.

Conforme destacou o parecer da Procuradoria de Contas do TCE sobre a representação, “coube o erário a função de pagar duas vezes, uma às empresas contratadas que deveriam assumir o risco econômico da gestão do Plano de Saúde do Estado e outra à Rede Credenciada que se viu desamparada por prestar os serviços aos beneficiários e não receber por seu labor”.

“As empresas, em suas defesas, alegam que realizaram os repasses à rede credenciada, entretanto, conforme manifestação da equipe técnica, tais repasses padecem de comprovação documental efetiva de que realizou os pagamentos, tais como recibos, notas fiscais e outros documentos hábeis”, diz outro trecho do parecer da procuradoria.

De acordo com a análise da auditoria, embora não seja impossível a hipótese de que o Sindessmat tenha cobrado o Estado indevidamente, o mais provável é que a SSAB tenha descumprido o contrato, já que a empresa não comprovou que fez os repasses à rede credenciada. “Há que prevalecer, até que se prove o contrário, que a SSAB recebeu os valores referentes aos meses citados e não cumpriu com o convênio, ou seja, não reembolsou a rede credenciada”, diz trecho da auditoria.

“De efetivo, ficou o desligamento de muitas empresas e profissionais da rede credenciada, o mau atendimento aos beneficiários do instituto (fatos amplamente divulgados pela imprensa) e a conta de R$ 43 milhões para esses mesmos beneficiários e o Estado pagarem”, diz outro trecho.

Irregularidades na contratação

A auditoria do TCE apontou, ainda, irregularidades na forma como a SSAB foi contratada, sem licitação. Utilizando o instrumento de dispensa de licitação, o MT Saúde contratou emergencialmente a SSAB por um período de seis meses, tendo a empresa Open Saúde como uma espécie de subcontratada.

A dupla contratação foi adotada porque, de acordo com a auditoria, a SSAB foi aberta apenas 68 dias antes da assinatura do contrato. Segundo o MPE, isso deixa “evidente sua inidoneidade técnica para execução dos serviços contratados, uma vez que não possuía tempo suficiente para comprovar sua aptidão na gestão de planos de saúde, ainda mais com a envergadura do MT Saúde, que atende 54 mil beneficiários espalhados por todo o Estado”.

O MPE também destacou, na representação enviada ao TCE, que a SSAB não possuía registro junto à Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), nem como operadora de planos de saúde, o que a tornaria inabilitada para executar o contrato. A Open Saúde, por sua vez, possuía um registro provisório na ANS.

De acordo com a auditoria, a SSAB “se utilizou do registro provisório da Open Saúde para camuflar sua atividade irregular de operadora de plano de saúde, que passou a exercer ao assumir a gestão da carteira de clientes do instituto”.

Outro lado

Durante o julgamento das contas de 2011 do MT Saúde, o advogado Murillo Silva Freire fez a defesa do órgão e negou as suspeitas de desvio de dinheiro público.

Ele alegou que a auditoria e a procuradoria do TCE não levaram em conta o fato de que “a empresa Saúde Samaritano requereu que as despesas atrasadas por falta de repasse do MT Saúde passassem a ser pagas diretamente pelo MT Saúde”.

Ele afirmou, ainda, que a dívida reconhecida pelo Estado com a rede credenciada compreende não só o período do contrato, mas abrange serviços realizados antes e após a vigência dele.

“Por essas razões é que se constata a improcedência da acusação de que houve desvio de recursos públicos”, concluiu o advogado.

A reportagem entrou em contato a assessoria da Secretaria de Administração (SAD), à qual o MT Saúde é vinculado, que prometeu se pronunciar até segunda-feira (4).


Veja abaixo as notas fiscais emitidas pela SSAB e pagas pelo MT Saúde:







Entre no grupo do MidiaNews no WhatsApp e receba notícias em tempo real (CLIQUE AQUI).




Clique aqui e faça seu comentário


COMENTÁRIOS
12 Comentário(s).

COMENTE
Nome:
E-Mail:
Dados opcionais:
Comentário:
Marque "Não sou um robô:"
ATENÇÃO: Os comentários são de responsabilidade de seus autores e não representam a opinião do MidiaNews. Comentários ofensivos, que violem a lei ou o direito de terceiros, serão vetados pelo moderador.

FECHAR

Fernando Cuiaba  04.03.13 14h15
Poxa...uma bagatela de 21 milhoes parcelados em tres vezes...em um recibo de bloco...caramba qualquer empresa hoje emite nota fiscal eletronica ta se se lascando para emitir ISS e ISSQN...o governo paga esse montante e em um papel de pao...eu nao acreito...e ainda o bloco feito as pressas em qualquer bloqueira de fundo de quintal e esta escrito o endereco acima sobre oja...e outro o ultimo recibo esta razurado..e outro pasmem nao tem validade como recibo...ou seja acho que o governo nao sabe o que e recibo e o que e nota fiscal...me ajudem contadores...nem la na feira do porto os caras te mandam nota fiscal eletronica o governo no papel de pao..nao da.
8
0
Lisandro Peixoto Filho  04.03.13 11h44
Desisto, é muito roubo e nada acontece neste Estado.
3
0
Maristela  04.03.13 10h31
Diante de tantas noticias tristes a respeito do nosso plano, fico mais triste ainda quando preciso de atendimento medico e nao tenho.Saber que pago por um plano que não é barato e nada tenho.E é descontado direto da folha de pagamento.Só que enfelizmente nada é feito por parte de ninguem.Ate quando vamos ficar a merce disso tudo?Quem vai realmente resolver nosso problema de saude?Ja que nem plano temos?Nós usuarios do MT SAUDE deveremos nos unir e lutar para a UNIMED administratar.Pois dai sim seremos atendidos.Sai administrador do MT SAUDE e entra outro e nada é resolvido.Vamos fazer algo por nós mesmos.Lutar por uma administradora séria.
10
0
Nego Preto  04.03.13 09h28
Nego Preto, seu comentário foi vetado por conter expressões agressivas, ofensas e/ou denúncias sem provas
Julia   04.03.13 09h22
Julia , seu comentário foi vetado por conter expressões agressivas, ofensas e/ou denúncias sem provas